São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Americano ganha 363% mais que paulistano

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços praticados hoje em dia no Brasil são mais altos (em dólar) que no exterior até mesmo em produtos vendidos nos supermercados. Também superam os estrangeiros em muitos serviços, como restaurante, aluguel de fitas de vídeo e viagens de avião.
O país está caro por várias razões. Entre as principais está a valorização do real frente ao dólar. Mas as margens de lucro e a ineficiência das empresas, aliadas aos impostos altos e salários baixos, contribuíram para acentuar o problema (leia texto nesta página).
Um consumidor que percorresse vários estabelecimentos e comprasse 36 bens e serviços em sete cidades do mundo gastaria mais no Brasil do que em qualquer outro lugar.
Em São Paulo, sua conta sairia por US$ 18.003,73. No Rio, US$ 17.953,44. A terceira cidade mais cara seria Buenos Aires (US$ 17.432,98), seguida por Nova York (US$ 16.154,18), Londres (US$ 14,183,62), Paris (US$ 13.271,44) e Pequim (US$ 12.539,82).
Os brasileiros pagam mais mesmo tendo os menores salários.
Nos seis países da pesquisa, os rendimentos dos brasileiros só são maiores quando comparados aos dos chineses.
Em São Paulo, o salário médio real pago aos trabalhadores é de US$ 605,00, quatro vezes menor do que o de um americano (US$ 2.800,00/mês) e quase a metade do de um argentino (US$ 1.000,00/mês).
No Rio, onde os preços são muito próximos aos de São Paulo, o salário médio real é ainda mais baixo: US$ 363,50, ou sete vezes menor do que o dos Estados Unidos.
Na comparação com os outros países, os preços brasileiros são mais altos não apenas em produtos de alto valor, como automóveis e computadores, onde há domínio dos países mais industrializados.
Retirando estes dois produtos da conta, mesmo assim o consumidor brasileiro teria que gastar mais para comprar os outros 34 itens da pesquisa.
Para o brasileiro, a conta seria de US$ 1.939,20 (sem carro e computador). Para o americano, de US$ 1.449,78.
Mesmo nos supermercados, os preços praticados em São Paulo e no Rio só são menores do que os de Paris. Para comprar uma cesta de 13 produtos, o paulistano gastaria US$ 28,09 e o carioca, US$ 26,85. Em Paris, a conta seria de US$ 28,51.
Os produtos pesquisados pelos correspondentes da Folha são similares aos encontrados nas prateleiras dos supermercados e lojas do Rio e São Paulo.
Não é por coincidência que Buenos Aires é tão cara quanto São Paulo e Rio. Assim como o Brasil, a Argentina conviveu durante anos com altas taxas de inflação e adotou um plano econômico baseado na âncora cambial, que usa a paridade entre a moeda local e o dólar para fixar preços.
Nos dois países, a inflação desestruturou a economia e os planos econômicos Austral e Real estimularam os empresários a elevar mais seus preços antes da vigência da nova moeda.

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