São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995 |
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Criatividade vira aliada da tecnologia
DENISE CHRISPIM MARIN
Na Alemanha, essa composição está se alastrando e orientando com ênfase a área de planejamento e desenvolvimento de produtos. No próximo dia 13, o consultor Horst Geschka, 57, estará em São Paulo para falar justamente desse tema durante o 6º Fórum de Criatividade Organizacional, organizado pelo Instituto Latino-Americano de Criatividade e Estratégia. Geschka é atualmente professor honorário da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, e sócio da consultoria Geschka & Partner Unternehmensberatung. Tem como clientes permanentes Mercedes-Benz, Basf, Wella, BMW, Beiersdorf e Bosch. Desde os anos 70, o consultor desenvolve pesquisas sobre métodos de geração de idéias. Também é autor do livro "Wettbewerbsfaktor Zeit" (ainda sem tradução para o português, mas que significa o tempo como fator competitivo). Na semana passada, Gerschka concedeu a seguinte entrevista à Folha.(Denise Chrispim Marin) Folha - O sr. é engenheiro formado por uma universidade exclusivamente técnica. O que o orientou para o estudo de criatividade na tecnologia? Gershka - Eu me propus a fazer um estudo da criatividade na tecnologia em bases comerciais. A partir daí, desenhamos um projeto direcionado para empresas. Nossa surpresa foi que, depois da campanha de vendas, 90 empresas européias se interessaram pelo estudo e pagaram 4.000 marcos (R$ 2.200) adiantados. Em 1971, levamos a cabo uma investigação pelo mundo afora. Encontramos pontos fracos nos métodos existentes e desenvolvemos uma dúzia de novos métodos. Depois, concluiu-se que este era o mais intenso estudo realizado nesse campo. Desde então, esse fascinante campo me conquistou. Folha - Tecnologia e criatividade costumam ser campos distanciados, tanto na fase escolar como na vida profissional. Como aliá-las ao trabalho? Gerschka - A criatividade é um elemento essencial no desenvolvimento tecnológico. Na Universidade Técnica de Darmstadt existe uma área de ensino desconhecida fora da Alemanha, a de especialista em gerenciamento tecnológico. Nesse campo, é comum ensinar todas as novidades em gerência tecnológica. Portanto, nossos estudantes estão também estudando técnicas de criatividade. A aplicação dessas técnicas, na Alemanha, é comum na área de construção de máquinas. Em Delft, na Holanda, há até um instituto universitário dedicado à criatividade no progresso tecnológico. As coisas estão mudando. Folha - A criatividade está se tornando requisito importante nos processos de seleção? Geschka - O fator criatividade é considerado. Entretanto, corporações alemãs são muito céticas quanto a testes formais. As norte-americanas os aplicam mais. Folha - Como os métodos de criatividade que o senhor desenvolveu podem ser aplicados? Geschka - Eu acredito que é mais importante compreender o que significa a criatividade, como os processos criativos funcionam e quais fatores impactam sobre eles positiva e negativamente. Dar essas compreensões básicas auxilia a ter técnicas à mão para dar suporte suficiente para o pensamento criativo. Essas técnicas podem ser aplicadas individualmente ou em grupos. A experiência mostra que os grupos costumam ser mais poderosos. O problema com as técnicas individuais é a disciplina mental. Folha - Empresas norte-americanas também estão incorporando seus métodos? Geschka - Tive algumas boas experiências com empresas norte-americanas. Fiz workshops e seminários para General Electric, Ford, Chrysler e outras. Meu livro sobre técnicas de criatividade foi publicado pelo Instituto Battelle, Ohio (EUA). Foi bem vendido e está em sua quinta edição. Soube que foi o livro de maior sucesso vendido pela Battelle. Folha - A criatividade é um dos elementos estratégicos para o sucesso das empresas? Geschka - Essa é uma pergunta difícil. Recentemente terminamos um estudo que mostra que muitas empresas de sucesso, com altos lucros, aplicam mais técnicas de criatividade que as de menor sucesso. Outro dado mostra que essas empresas de sucesso acreditam que a aplicação dessas técnicas é um fator que pesa em seus bons resultados. Esses resultados empíricos são estatisticamente significantes. Entretanto, o universo de empresas com alto sucesso econômico é um tanto pequeno. Folha - Existe ceticismo nas empresas alemãs com relação à aplicação de técnicas de criatividade no desenvolvimento de novos produtos? Geschka - Não há ceticismo em empresas alemãs. Há muito mais falta de consequência ou de consciência. Elas consideram essas técnicas como úteis, contudo não existe energia para aplicá-las. Fazemos pesquisa sobre a aplicação de técnicas de criatividade na indústria alemã desde 1975. Eu sei que a aceitação e aplicação têm vagaroso aumento. As normas técnicas alemãs, em suas valiosas análises, prescrevem as técnicas de criatividade para a geração de idéias. Folha - O sr. poderia nos dar exemplo de produtos desenvolvidos a partir da combinação entre tecnologia e criatividade? Geschka - Vou dar alguns exemplos que resultaram de nosso trabalho de consultoria: novos componentes utilizados no tratamento de detritos, novos produtos para cuidados com os cabelos e bancos de luzes para bronzeamento da pele. Texto Anterior: Aluna diz ter sido explorada Próximo Texto: Software agiliza a seleção de profissionais Índice |
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