São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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TITITI NA SAPUCAÍ

SÉRGIO DÁVILA

Este ano, Letícia Spiller queria ser a rainha da bateria da escola de samba União da Ilha no Carnaval do Rio de Janeiro.
A atriz de 21 anos tinha seus motivos: descoberta pela Globo em 1994, estourou nas telas como a despachada manicure Babalu, da novela "Quatro por Quatro". Sua plástica, realçada por pouca roupa, e sua atuação, elogiada pela crítica, levaram o autor a aumentar suas cenas. Nos últimos meses, estampou mais de uma dezena de capas de revistas. É figura fácil em colunas sociais e festas (nada mal para quem estreou como "Pituxa Pastel", uma das 200 mil paquitas do "Xou da Xuxa"). Natural que, como todas as gatinhas que chegam lá, queira coroar seu sucesso com o posto mais desejado do Carnaval, não?
Mas Letícia Spiller não vai ser a rainha da bateria da União da Ilha. Sairá apenas como destaque no último carro do desfile.
É que o Carnaval carioca está mudado. Desde que Monique Evans lançou, em 1985, a onda de famosos na avenida, muita coisa aconteceu. Hoje, em muitos casos, não basta ser famoso —tem que participar. Três correntes imperam nos barracões do Carnaval 95. A principal, mais tradicionalista e cada vez maior, defende a supremacia das mulheres da "comunidade". Nada de atrizes e modelos famosas, portanto. (Há ainda os que pensem o contrário —elas atraem dinheiro de patrocinadores e atenção da mídia. E uma terceira, mais pragmática, fecha com as duas.)
Com um orçamento global estimado em mais de R$ 10 milhões e um contigente de 70 mil envolvidos, presidentes e diretores das agremiações quebram a cabeça para definir politicamente: 1. quem será a rainha da bateria (o lugar preferido por todas as aspirantes); 2. as que vão para o alto dos carros alegóricos como destaque (o segundo em importância); 3. e quem acaba sambando no chão, na vala comum das alas.

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