São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 1995
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Aos vencedores, US$ 50 mil; aos trambiqueiros, as batatas

WASHINGTON OLIVETTO

Mais de 6.000 trabalhos concorreram este ano ao prêmio Andy Awards
Acabo de chegar do júri do Andy Awards, promovido pelo The Advertising Club of New York.
O Andy é um tradicionalíssimo evento de publicidade norte-americana que, a partir deste ano, começou a se internacionalizar.
Foi inventado anos atrás por um grupo de presidentes e diretores de criação de agências quentes de New York e da Costa Leste, que resolveram promover um evento que transcendesse um simples festival de publicidade.
A filosofia do Andy é celebrar a excelência criativa dos trabalhos e o convívio entre os grandes profissionais. Por isso mesmo, o evento tem até um certo pique turístico: cada ano é realizado numa cidade diferente, alternando sempre uma cidade norte-americana com algum lugar interessante do mundo. Já tivemos Andy em New York, Siena, Los Angeles, Amsterdam, etc etc. Este ano o julgamento final foi em South Beach, na Flórida.
Para garantir o glamour do evento, o Andy conta com poderosos patrocinadores: The New York Times, Advertising Age e Grupo Condé Nast.
No júri final, que é fixo, nomes da pesada da publicidade americana, como Frank Ginsberg, chairman da Avrett Free & Ginsberg, Nina Di Sesa, Advertising Woman of the Year 1994, John Hurst, da Campbell Mithun Esty, de Minneapolis, Mark Fensk, da The Bomb Factory, de Venice, na Califórnia, além de muitos outros, incluindo um gringo convidado, que, no caso, era eu.
A programação social promovida pelos patrocinadores incluía hospedagem no hotel The Raleigh, inteirinho art déco e com a piscina mais fotografada dos EUA, jantar com jazz no The Wolfsonian Museum, almoço no The News Cafe e outras badalações mais.
Mas o que mais me impressionou no Andy foi a correção e a justiça dos julgamentos.
Para vocês terem uma idéia, concorreram este ano mais de 6.000 trabalhos, incluindo televisão, mídia impressa e rádio.
A triagem para ver qual desses trabalhos merecia chegar ao julgamento final foi feita em New York por um grupo de publicitários. Detalhe: não eram redatores e diretores de arte iniciantes. Pelo contrário, eram presidentes e diretores de criação de agências conceituadas que se dispuseram a fazer esse trabalho pesado voluntariamente, em nome da preservação da qualidade da profissão.
No Andy só é finalista propaganda que realmente exista, que tenha sido veiculada, e qualquer peça que fira essa regra está automaticamente desclassificada.
Perguntei ao chairman do Andy, John Nieman, se existia alguma punição para quem faz esse tipo de trambique e ele me respondeu que apenas o desprezo dos grandes profissionais já era o suficiente.
Chegaram à final de South Beach um pouco mais de 400 peças, e foi aí que começou o nosso trabalho.
O júri de 20 profissionais trabalhou durante 3 dias em dois períodos. Os 20 jurados foram divididos em 5 grupos de 4. Esses 4 eram alternados a cada período e todos os jurados votaram em todas as peças. Para uma peça obter um Andy era necessário que ela tivesse o mínimo de 36 pontos (por exemplo, 4 notas 9), pelo menos em 3 dos 5 grupos.
Evidentemente o bom senso conduziu a que se votasse novamente cada peça com 35 pontos.
Apesar da experiência do júri, cada um de nós recebeu anteriormente uma pasta com critérios que deviam ser obedecidos durante o julgamento.
Exemplo: Critério para julgar filmes.
A Idéia. É única? É crível? Motiva o espectador? Faz o espectador reter a utilidade e o valor do produto ou serviço?
A Produção. É harmoniosa? (Vídeo, áudio, animação, efeitos e música estão em perfeita harmonia?)
Credibilidade. O comercial empresta real credibilidade para o produto ou serviço anunciados?
Resultado final. É excelente? Você contrataria os criadores e o diretor do comercial para trabalhar em sua agência?
Após 3 dias de trabalho, tínhamos as peças premiadas com o Andy. Foram 38, incluindo televisão, mídia impressa e rádio. Todas elas passaram a ser automaticamente concorrentes ao Grand Andy, que foi julgado no quarto dia.
Aí começou a parte mais emocionante. Os 20 jurados se reuniram com o chairman da premiação, promovendo assim um número ímpar e cada um de nós votou "in" e "out", eliminando em 4 rodadas seguidas diversas peças (muitas brilhantes) até chegarmos a duas finalistas.
Nesse instante, ocorreu a única votação fechada, onde cada jurado escolheu o seu Grand Andy, colocou numa folha de papel e entregou para o pessoal da Ernest & Young Auditores, que só vai revelar o grande vencedor num show-festa no dia 8 de maio, em New York.
Os dois grandes finalistas são magníficos: o comercial Nike Football World Cup e a campanha (nuts) Pistachios of California.
As agências finalistas são, respectivamente, a Wieden & Kennedy e a Chiat Day, que não tinham representantes no júri.
E o grande vencedor vai receber 50.000 dólares, mas muito mais do que isso, a certeza de que foi premiado num evento sério, onde o respeito pela profissão é bem maior do que a vontade de conseguir uma vaguinha lá no fundo do estacionamento da fama.

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