São Paulo, terça-feira, 21 de fevereiro de 1995
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Para Faria, mulher vivia com gente 'podre'

AUGUSTO GAZIR; AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na última carta que deixou, o empresário Sebastião de Faria acusava a mulher de ter se juntado a "pessoas podres" e de enxergar só os "bens materiais". "Não sei se você será feliz com esse dinheiro maldito roubado", escreveu.
A carta, com data de ontem, foi entregue por Faria para a empregada da família na garagem do prédio. Minutos depois, o industrial matou as duas filhas e se suicidou. No envelope, deixou uma foto onde aparece ao lado das meninas.
Nos últimos cinco dias, o industrial estava dormindo na casa da mãe, em Cidade Ademar (zona sul). Passava no prédio apenas para pegar as filhas e levá-las à escola, que fica na mesma rua. A empregada da família —que acompanhou as meninas até a garagem— disse que ouviu os tiros quando subia pelo elevador.
Na hora do crime, a mulher Joy Neuber de Faria, 33, fazia ginástica em uma academia.
Faria chegou ao prédio em Moema às 6h50, de carona com o irmão, o funcionário público Adenir de Faria, 42.
Às 7h50, o industrial ligou para o celular do irmão avisando que iria se matar. Adenir voltou "desesperado" para o prédio, mas já encontrou os corpos caídos na garagem. As duas meninas vestiam uniforme da escola. Isabelle ainda respirava, mas morreu cerca de duas horas depois no Hospital do Servidor Público Estadual. "Meu irmão pediu que eu deixasse o celular ligado, porque precisaria me pedir o carro emprestado. Isso não se faz. Amo meu irmão, mas não sei se perdôo ele não", afirmou Adenir.
A mãe das meninas chegou a passar pelo prédio, mas entrou em estado de choque e foi socorrida por amigos. Ela não foi localizada ontem pela Folha.
No bolso de Faria, o irmão encontrou uma segunda carta com data do dia 16, quinta-feira passada. Nela, o industrial falava que queria ser enterrado junto com as filhas no cemitério de Congonhas, na zona sul.
Seu último pedido não foi atendido. Joy e familiares decidiram que as meninas serão enterradas no jazigo da família, no cemitério da Aclimação, em Vila Mariana.
O corpo de Faria foi liberado ontem à noite e está sendo velado em Congonhas. Os corpos das meninas permaneciam no Instituto Médico Legal da zona sul. Os médicos ainda procuravam um dos projéteis que atingiu Isabelle. Não havia técnicos para operar o Raio-X e o corpo da menina teria de ser levado para o IML central.
Na carta do dia 16, Faria terminava dizendo que "odiava Deus". "Deus me deu três estrelas, Stephanie, Isabelle e Joy. E me tomou o universo."
Na última carta, o industrial diz que "Izabel" seria uma das "podres" responsáveis pelas mudanças no comportamento de Joy. Izabel, segundo Adenir, seria uma namorada do pai de Joy, o empresário Ricardo de Souza Neuber.
Ouvido ontem pelo delegado Eduardo Camargo Lima, Neuber apenas disse que o casal passava por um momento de crise.
(Augusto Gazir e Aureliano Biancarelli)

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