São Paulo, terça-feira, 21 de fevereiro de 1995
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Filme francês leva Urso de Ouro em Berlim

LEON KAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Apesar da única unanimidade deste apático 45º Festival de Berlim ter sido "Smoke", produção americana com direção do chinês (de Hong Kong) Wayne Wang, o filme francês "L'Appât" (A Isca), de Bertrand Tavernier, sobre delinquência juvenil, foi exibido no último dia e ganhou o Urso de Ouro do festival.
"Smoke" e a co-produção austro-húngara "Before Sunrise" ficaram com prêmios de consolação —Ursos de Prata.
O primeiro levou a estatueta como "prêmio especial do júri". "Before Sunrise" foi premiado pela direção de Richard Linklater.
Paul Newman ganhou o Urso de Prata de melhor ator, por "Nobody's Fool", de Robert Benton. Josephine Siao, em "Summer Snow", de Ann-Hui, de Hong Kong, foi premiada como melhor atriz.
Tavernier transpôs para a atualidade um fato policial que chocou a opinião pública francesa no início dos anos 80. Uma jovem exuberante (papel que revela Marie Gillain) é usada pelo namorado e um amigo para atrair ricos paqueradores e invadir os seus apartamentos.
Sadismo e apatia confrontam-se num filme elegante, sem apelos emocionais, num exercício de mestre.
Tavernier é um ritualista com as imagens que aos poucos revela. A carga de tensão se acumula, mesmo que o apelo à violência seja quase o tempo todo apenas implícito.
Tavernier é um mestre no assunto desde "Um Domingo no Campo", o filme de imagens impressionistas que o consagrou internacionalmente em 1984.
Tavernier parece dar a resposta francesa ao polêmico último filme de Oliver Stone, "Assassinos por Natureza". Comparados os dois filmes, o de Tavernier vence pelo toque humanitário.
Os personagens franceses são comoventes na sua imbecilidade. O sonho do trio de assassinos franceses a sangue frio é acumular dois milhões de dólares, emigrar para os Estados Unidos e montar uma rede de lojas de roupas "prêt-à-porter".
A anatomia dos seus crimes revela uma estratégia patética de ação, o que vem a ser o melhor do filme: a antítese dos milhares de filmes de ação que nos cercam por todas as mídias. Inclusive no filme de Tavernier: seus três jovens personagens são videomaníacos, fanáticos por filmes americanos de ação.
Também reservado para o último dia do festival, a seção Panorama mostrou outro ótimo filme sobre delinquência juvenil e outra vez da França: "Frères", de Olivier Dehan.
É o nono e último filme da série "Tous les Garçons et les Filles de Leur Ages" sobre a juventude francesa através das décadas, e o quarto a ter uma versão mais longa para cinemas.
O primeiro a nos chegar foi "Rosas Selvagens". A França tem isso de bom no seu cinema: Olivier Dahan tem apenas 24 anos e "Frères" é o seu filme de estréia com as mesmas condições que um veterano encontra o país do cinema para filmar.
Dahan mesclou sua vivência nos subúrbios de Marselha e seus 15 trabalhos anteriores em videoclipe para dar o clima do seu primeiro longa.
As imagens noturnas são coloridas. O que é em preto-e-branco é a documentação da realidade, em vídeo passado para película. A violência parece um pesadelo nos atos e na perseguição a um menino que mata acidentalmente a um outro.
No centenário do cinema o ano tem mesmo que ser francês. É sempre com eles que aprendemos a amar cada vez mais o cinema.
(Leon Cakoff)

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