São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995
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Eslovacos vêm divididos e destreinados

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Como diria o saudoso João Saldanha, aquele lugar de onde vieram nossos adversários de hoje é assim: tem um rio lá que atravessa o país —de um lado, ficam os checos; de outro, os eslovacos. Uns são morenos, olhos escuros, baixos e troncudos; os outros, loiros, olhos azuis, altos e esguios. Uns nasceram pra jogar futebol; os outros são uns pernas-de-pau.
É bem verdade que todos nós que nos embevecíamos com a inteligência e o humor do João acreditávamos desacreditando em tudo que ele dizia. Até o dia em que ele narrou sua aventura hemingweyana, cumprindo a Longa Marcha de Mao na China de 49. Aí a casa veio abaixo: houve verdadeira insurreição de seus admiradores, que quase terminou em morte, pois o João, todos sabem, era o pavio mais curto do Brasil.
Anos depois, o veterano jornalista Ruy Viotti, que trocou o futebol pelo tênis definitivamente, me jurou que, entre as lembranças deixadas por João na casa da ex, lá estava uma foto do nosso herói, datada de 1949. João, de calça caqui e camisa sem colarinho abotoada até o pescoço, no centro. De um lado, Mao Tsé Tung; do outro, Chu En Lai.
Moral da história: nada é impossível.
Basta você pegar um carro na Floresta Negra, no coração da Alemanha, e dirigir-se para Estrasburgo, na Alsácia-Lorena. Durante horas, desliza-se por largas rodovias, lisas e seguras como mesas de bilhar, cercadas por campos bem cuidados, tudo sinalizado e limpo como se um exército de margaridas, de hora em hora, varressem o mundo. Aqui e ali, cruza-se com uma camponesa gorducha, loira, de faces afogueadas e olhar de um azul inatingível, marchando a passos de ferro. Aí vem uma ponte, enorme, alva e reta, que desemboca numa miríade de ruelas apertadas e tortuosas, cobertas de paralelepípedos assimétricos, tomadas por senhoras esbeltas, que irradiam coquetterie em cada esquina, com seus passos miúdos e movimentos sugestivos de braços, quadris e cabeça. É a França.
Digo tudo isso pra não ter que dizer o óbvio: sei lá se há alguma diferença entre os checos e os eslovacos. Só sei que, quando juntos, eram uma força do futebol mundial. Sempre um bom espetáculo, desde a Copa de 38, quando nos deram um calor danado, obrigando o Brasil, que acabou em terceiro, mas poderia até ter sido campeão, a disputar um jogo de desempate com eles, no prazo de 48 horas. Com isso, perdemos Leônidas para o jogo contra a Itália, que foi decisivo.
Esta noite, lá em Fortaleza, isso terá pouca ou nenhuma importância. Eles vêm divididos e destreinados. Nós vamos de meia-boca, sem vários craques, entre os quais os do Palmeiras. Ah, sim, e Viola, que o técnico preferiu não convocar porque soube, através de uma declaração do médico corintiano à imprensa, que o craque estava com furunculose. Então está desvendado o segredo da má fase de Viola. Sem furunculose, não jogava nada. Com furunculose, fez aquele gol de placa no sábado. Então, Zagalo, furunculose nele, uai!

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