São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 1995
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As vacilações de Arida

LUÍS NASSIF

A falta de familiaridade do presidente do Banco Central Pérsio Arida com questões práticas, está o induzindo a dois erros graves.
O primeiro é pretender o confronto com o governador paulista Mário Covas. Há duas premissas essenciais para o caso São Paulo chegar a bom termo: São Paulo não pode pedir nenhuma concessão ao BC, e o BC não pode pretender colocar São Paulo de joelhos.
Ambas levam a uma única saída: a constituição de um grupo de estudos, com representantes do BC e do governo paulista, visando equacionar a questão de comum acordo.
Nos últimos dias, o governador paulista Mário Covas sinalizou nessa direção. Mas Arida não captou o sinal.
Anunciar soluções duras contra o Banespa pelos jornais, depois do gesto de boa-vontade do governador paulista, é demonstração juvenil de auto-suficiência. Serve apenas para politizar a discussão a enfraquecer a busca de soluções técnicas.
O que Arida tem a fazer é sentar, discutir maduramente —e em conjunto com São Paulo— uma solução para a crise paulista e apresentar uma saída factível, sem abrir mão de suas convicções.
Se no meio das negociações São Paulo permanecer irredutível em suas pretensões de se financiar junto ao Tesouro, a briga de Covas não será com Arida —mas com todos os contribuintes, inclusive os paulistas.
Mas pretender dar demonstrações de força no vazio, contra um governador do peso de Covas, é tão pretensioso quanto Marco Maciel desafiar Maguila para um mano-a-mano no ringue.

Sem promiscuidade
O segundo erro de Arida é buscar diretores do BC no setor financeiro. Independentemente das qualidades dos presumíveis escolhidos —pessoas que a coluna estima e respeita—, está na hora de acabar com essa promiscuidade do BC com o setor privado.
No ano passado, um banco recém-constituído, de economistas ligados ao PSDB, registrou lucro contábil de US$ 50 milhões. No mercado financeiro, e mesmo entre as hostes tucanas, estima-se que o lucro real tenha sido de US$ 120 milhões.
O lucro foi obtido em cima das mudanças na política cambial, na entrada do real. Nem se pode falar em "insider information", já que as novas regras do câmbio foram anunciadas antecipadamente para todo o mercado.
Mas é evidente que quem participou das discussões internas, sobre as novas políticas cambial e monetária, estava muito mais preparado para acertar na mosca o novo nível das taxas de juros e o novo patamar do câmbio que os demais parceiros do jogo.
Nos últimos anos, inúmeros técnicos e economistas paulistas utilizaram o poder como trampolim profissional, num jogo que degradou o setor público muito mais do que as nomeações de Humberto Lucena.
Está na hora do governo FHC repetir no Banco Central a profissionalização que seu ministro das Comunicações, Sérgio Motta, está implantando no seu setor.

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