São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 1995
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Morbidez é marca de inédito

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Atirem" ilustra um típico gesto de Truffaut. Em face do sucesso de seu filme de estréia —"Os Incompreendidos"— afastou a tentação do "grande tema" e optou por adaptar um romance de David Goodis e filmá-lo como uma homenagem à série "B" (obras de baixo orçamento).
"O Quarto Verde" foi um previsível fracasso de bilheteria, o que explica o fato de estar inédito até hoje. Truffaut fez o filme quando tinha 46 anos e sentia-se, como disse, "cercado de mortos".
Ele mesmo faz o personagem principal. Um homem que lutou na Primeira Guerra e perdeu a mulher logo após o casamento. Ele passa a dedicar sua vida a um verdadeiro culto aos mortos e à recusa ao contato com os vivos.
Filme noturno e invernal, "O Quarto Verde" tem seus melhores momentos sempre que evoca diretamente os filmes de horror da Universal dos anos 30.
Essa foi a idéia central de Truffaut, e a que ele parece ter desenvolvido com maior cuidado: ao mesmo tempo que falava de sua sensação da morte, promovia a aproximação entre passado e presente (cinema clássico e moderno), entre um gênero eminentemente popular e o erudito. De certa forma, todo Truffaut está aí.
Mas o filme tem algo que destoa do Truffaut habitual: o tom é pesado, melancólico, por vezes aterrorizante.
(IA)

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