São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Faltam navios para trazer os importados

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de contêiner e de espaço nos navios que partem da Europa e dos Estados Unidos para o Brasil está impedindo os embarques de bens de consumo já adquiridos pelos importadores.
A rede supermercados Sendas, por exemplo, não conseguiu embarcar oito contêineres de leite condensado holandês na primeira semana de fevereiro. O atacadista Makro só arranjou espaço no navio para embarcar 20 dos 80 contêineres da batata frita do Canadá.
"Não vai faltar produto. Mas o consumidor deve encontrar, daqui para frente, um menor volume de importados nas prateleiras dos supermercados por causa dos embarques parcelados", diz Marco Túlio Almeida, gerente do Makro.
O Eldorado, no qual os produtos estrangeiros respondem por 10% do faturamento, confirma que enfrenta problemas para trazer mercadorias do exterior.
"Está uma loucura. Todos os navios estão lotados", diz Kurt Kausch, vice-presidente da ABTI (Associação Brasileira de Transportes Internacionais).
Segundo ele, para reservar o espaço no navio, hoje a demora é de quatro a seis semanas. Em épocas normais, era possível embarcar a carga em dez dias. Com o aumento da demanda por frete, Paulo Augusto Camelo, diretor comercial da empresa de navegação Aliança, conta que teve de alugar cinco navios extras para trazer mercadorias da Europa.
A sua empresa, diz Camelo, em associação com mais quatro do setor, é dona de 12 navios cargueiros, com capacidade média para 1.400 contêineres, que operam regularmente nesse percurso.
Também no trajeto entre os EUA e o Brasil, as cinco empresas colocaram dois navios extras.
Motivo: os seis navios que trabalham normalmente nessa linha não estavam conseguindo dar conta da maior procura por frete.
Nas últimas semanas, a expectativa de aumento do Imposto de Importação sobre os carros agravou o congestionamento de embarques, especialmente nos portos do norte da Europa, diz Valéria Lee, responsável pela logística de importação do Sendas.
É que os importadores tentaram embarcar o maior volume possível de automóveis para escapar do aumento do imposto.
Além disso, quem está trazendo queijo, cerveja e leite da Europa, diz ela, quer nacionalizar a mercadoria antes de 31 de março para usufruir de uma alíquota menor de importação.
Também o aumento no volume de produtos importados desencadeado pela redução do Imposto de Importação e pelo câmbio favorável às compras desde a entrada do real contribuíram para piorar o congestionamento. A greve dos portuários no final de 1994 atrasou a volta dos navios para a Europa.

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