São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Dança é a atração nas praias de Porto Seguro

LUÍS EDUARDO LEAL
ENVIADO ESPECIAL A PORTO SEGURO

As barracas de praia em Porto Seguro, na Bahia, acirram no Carnaval uma disputa travada ao longo de todo o ano: manter sob seus coqueiros atrações que consigam reunir o maior número de turistas.
Grace Jones, 25 —o nome de batismo é Arivaldo Evangelista da Silva—, é a estrela da barraca Barramares, na praia de Taperapuã, uma das mais frequentadas.
O nome artístico, explica Grace Jones —um negro musculoso de mais de 1,80 m—, vem do corte de cabelo semelhante ao da famosa cantora e atriz homônima.
"Ensino o povo a dançar debaixo deste sol forte, de janeiro a janeiro", diz Grace.
O dançarino trabalha sobre um estrado entre a barraca e as areias de Taperapuã, nas quais turistas brasileiros e estrangeiros imitam seus passos de "lambaeróbica".
A dança é uma corruptela de lambada e aeróbica para designar uma mistura de axé music e ginástica de academia. Nada mais é do que balançar braços e quadris no ritmo de sucessos baianos, como o onipresente "Melô do Tchaco".
"Isso aqui é muito legal, as pessoas são ótimas. Pretendo voltar todos os anos", diz a publicitária argentina Martina Viaela, 23.
Novata na "lambaeróbica", ela se saiu bem a ponto de ser convidada para dançar com Grace Jones no palco, sob calor de 35 graus.
Já a dança do "rala o pinto", sensação do verão baiano há três anos, sobrevive em Porto Seguro na versão do travesti Margô, 30, um dos animadores de praia mais disputados pelas casas noturnas e barracas da cidade.
O "rala o pinto", dança inspirada no famoso hit baiano de mesmo nome, é uma espécie de manual de posições sexuais musicado. Há desde o "carrinho de mão" ao "coqueirinho", para citar as referências sexuais mais discretas.
Dançando o "rala o pinto" em uma praça do centro de Porto Seguro, o travesti despertou a atenção das autoridades da cidade no final do ano passado.
Os problemas de Margô com a Justiça surgiram com sua interpretação quase literal aos apelos de "e o boquete, e o boquete", explícitos na letra da música.
"Me chamaram para uma conversa amigável e pediram para que a dança fosse mais discreta", diz. O "rala o pinto" de Margô não chegou a ser proscrito da cidade, mas sua versão atual é mais sóbria.
O travesti seleciona um grupo de homens de sua platéia de turistas e os dispõe, sentados, em uma roda, de onde os tira para dançar.
"Um estudante de Campinas chegou a ficar desmaiado uns 20 minutos porque tomou um susto tremendo com a brincadeira", diz Margô, que garante que a manobra toda se resumia a um "beijinho".

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