São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Maluf marca data para iniciar campanha

Não consegui convencer minha mulher a não fumar. Disse a ela que ela vai morrer de câncer.
Folha - Nas chuvas deste ano houve 14 mortes em desabamentos em terrenos da prefeitura. Por que as obras de contenção de encostas não são feitas antes das chuvas?
Maluf - É lamentável que as pessoas não tenham onde morar e invadam terrenos municipais. Esse pessoal pobre são invasores que merecem de nossa parte toda consideração, nós não tiramos ninguém. Mas são casas que foram construídas sem a menor condição de resistência. Não adianta dizer que era necessário construir muros de arrimo. É muito mais caro que construir casas para eles em área sem risco. O dinheiro do FGTS, que é um dinheiro carimbado para a casa própria, está sendo retido na CEF. Hoje existem em Brasília US$ 3 bilhões parados. São Paulo arrecada 50% do valor do FGTS, com US$ 1,5 bilhão de dólares é possível construir 150 mil casas no valor de US$ 10 mil cada um. Agora, sobre enchentes, eu sei o que eu fiz. Nós fizemos o piscinão do Pacaembu.
Folha - A Erundina diz em artigo publicado hoje (quinta) na Folha que o piscinão é idéia dela.
Maluf - Eu também tenho sonhos. Eu sonhei um dia que tinha comprado o Empire State. Eu não vou polemizar com ela, por que ela não fez? No Ipiranga sempre existia enchente na Ricardo Jaffet. Fizemos o córrego do Morro do S...
Folha - Foram feitas obras em córregos, mas as encostas...
Maluf - Você não quer colocar as obras que eu fiz. Você não quer colocar a obra do córrego do Jaguaré, do córrego Uberaba, o córrego Uberabinha...
Folha - Prefeito, ninguém morreu afogado neste ano. O problema foram os deslizamentos de terra em terrenos da prefeitura.
Maluf - Nós vamos chegar lá. Não teve enchente, por exemplo, no Mongaguá, em Ermelino Matarazzo. Não teve enchente no Zavuvu.
Folha - Mas na região do Pirajussara, no Butantã, onde o senhor fez obras, houve enchente.
Maluf - O Pirajussara é outro problema. O grande problema do Pirajussara é Taboão da Serra. O prefeito de Taboão esteve comigo. Ele não tem dinheiro para fazer a obra. Eu estou pronto para fazer o Pirajussara, tanto que já fiz duas pontes na Cidade Universitária, onde não teve enchente.
Folha - Teve.
Maluf — Naquelas duas pontes não.
Folha - No cruzamento da rua Alvarenga com a av. Waldemar Ferreira teve.
Maluf - Está em construção uma obra no Pirajussara que vai aumentar a vazão de 90 metros cúbicos para 270 metros cúbicos entre a Cidade Universitária e o rio Pinheiros. Com mais 13 córregos que vamos fazer, eu posso lhe garantir que nenhum prefeito fez metade do que o Paulo Maluf está fazendo. Agora, voltando à sua pergunta, no caso da invasão de área municipal, há que se ter um mínimo de coração. Essas invasões foram toleradas pela administração anterior e também pela nossa porque essas pessoas não têm onde morar. A solução definitiva é construir uma casa e financiar em 25 anos com uma prestação baixa.
Folha - Mas na página 33 do seu programa de governo o senhor disse que iria priorizar a retirada dessas pessoas de áreas de risco.
Maluf - E nós tiramos. Mas esse indivíduo volta. A não ser que vocês me sugiram que eu use força policial.
Folha - O senhor disse que faria a extensão da Faria Lima a custo zero para a prefeitura. Que conseguiria dinheiro alterando a Lei de Zoneamento e vendendo espaço para as pessoas construírem. A Câmara ainda não aprovou esta mudança e já foram gastos R$ 31 milhões.
Maluf - Eu não mando na Câmara. O projeto está lá desde outubro de 93.
Folha - Mas o senhor tem maioria na Câmara. O senhor não poderia conversar com os vereadores para apressar o projeto?
Maluf - O que faz parte do jogo democrático é cada um assumir a sua responsabilidade. Eu assumi a minha. Fiz o projeto e enviei à Câmara.
Folha - Se o projeto não for aprovado, a extensão Faria Lima sai de qualquer jeito? A prefeitura tem dinheiro?
Maluf - A Faria Lima sai de qualquer jeito. Se a prefeitura não tiver dinheiro, vai arrumar.
Folha - Como?
Maluf - O orçamento é dinâmico e hoje a prefeitura tem dinheiro para a Faria Lima e para outras obras.
Folha - O senhor afirmou que seu governo não esquece a área social. Mas, no Orçamento no ano passado, a prefeitura destinou apenas 39,7% do Orçamento para essa área, quando Jânio usou 51,7% em 88, 40,2% em 89, e Erundina destinou 46,9% em 90, 47,3% em 91 e 56,8% em 92.
Maluf - Você não pode culpar a prefeitura porque está conseguindo comprar gastando menos. Eu fiz uma reestruturação na área da educação e essa área não teve greve, ao contrário do Estado.
Folha - Mas não é só educação. A prefeitura não gastou todo o Orçamento da área da Saúde e chegou a faltar seringa descartável. Existiu até um ofício recomendando o uso de seringa de vidro.
Maluf - Isso foi a declaração de um idiota, ele que me processe, porque tinha seringa descartável em outras unidades. Em vez de fazer um ofício, ele que desse um telefonema, que é mais fácil. Ele cometeu um erro que lhe causou a demissão.
Folha - Mas a área da Saúde precisa de investimento? A cidade tem falta de leitos e uma pessoa espera até seis horas para ser atendida nos hospitais municipais da zona leste.
Maluf - O problema não é de investimento. O problema é como gastar. O sistema não está bem, mas eu estou com um plano novo, o PAS, Plano de Atendimento à Saúde. Hoje nem o prefeito nem o secretário da Saúde sabe quantas cirurgias são feitas nos hospitais municipais. No entanto, o salário foi dobrado e o sujeito vai dizer que ainda ganha pouco. Hoje não tem controle nenhum.
Folha - Mas os dois anos de governo não foram necessários para reconhecer o problema e colocar um gerenciamento em prática?
Maluf - Em dois anos nós constatamos que não tem controle de remédio, de ponto. Agora estamos com um plano novo. O médico na Inglaterra, na França não ganha por mês, mas pelo que ele faz. Eu não vi ainda nos holerites da prefeitura nenhum médico que tenha sido descontado por falta.

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