São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Casais tentam adotar irmãos mas juiz não quis separá-los

Cada família ficaria com um e manteria laços entre eles

ESPECIAL PARA A FOLHA

No ano passado, os casais Fernandes e Sônia Regina Dintof e Maurílio e Antônia Torolho tentaram adotar dois irmãos. Cada casal -eles são amigos e moram perto- ficaria com um irmão, comprometendo-se a manter os laços entre eles.
Não conseguiram. O juiz optou por deixar os dois irmãos juntos numa outra família.
A idéia de adotar os dois meninos surgiu como consequência do trabalho voluntário que Sônia e Antônia desenvolviam no orfanato Favos de Luz. As duas se afeiçoaram aos dois irmãos. Antônia desenvolveu uma relação mais profunda com o mais velho, Cristian, hoje com 4 anos. Sônia com o mais novo, Ralf, hoje com 2.
Como o orfanato não tinha muitos recursos e houve uma epidemia de catapora, foi permitido que Antônia e Sônia levassem as crianças para casa.
Os meninos, que estavam desnutridos, foram submetidos a tratamento médico. Por nove meses ficaram sob os cuidados dos Dintof e dos Torolho. Conviveram com os outros filhos dos casais e criaram vínculos afetivos com as famílias.
Mais tarde, por ordem judicial, as crianças foram transferidas para o orfanato Lar de Nice. O acesso às crianças tornou-se difícil e os casais só as viam com permissão do juiz.
"O orfanato só permitia uma visita por mês", conta Sônia.
Nesse ínterim, os dois casais resolveram pleitear a adoção das crianças. Em meados de setembro eles foram considerados habilitados para adoção.
Em novembro um juiz decidiu que "como as crianças deverão ser adotadas juntas por um casal, fica garantido o direito das mesmas de conviver na família, ainda que via adoção. Prejudicados os pedidos de adoção em separado".
As famílias resolveram não recorrer da decisão temendo que as crianças voltassem para o orfanato durante o julgamento do recurso. "Foi uma decisão difícil, mas que procurou evitar o sofrimento das crianças com a provável volta ao orfanato", afirma Sônia.
"Não critico o juiz, que preferiu deixar os dois na mesma família. Mas acho que a lei deveria mudar e privilegiar os vínculos afetivos da criança. Eles já nos chamavam de mamãe e papai", diz Antônia.
Um caso semelhante, envolvendo a adoção de duas irmãs, teve um final diferente. Há 10 anos, Christina Papisckys da Motta e seu marido adotaram uma menina de 4 anos. Um casal amigo deles adotou a irmã. O processo foi rápido.
"A mãe das crianças apareceu em casa dizendo que não queria ficar com elas. Senti afinidade por uma das meninas e a minha amiga pela outra. Resolvemos então adotá-las", conta Christina.
Eles se apresentaram ao juiz junto com a mãe das meninas, que abriu mão do pátrio poder. Foram feitas as entrevistas com a psicóloga e assistente social. No mesmo dia foi concedida a guarda provisória das meninas aos dois casais por um ano. Terminado esse prazo, o juiz autorizou a adoção.

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