São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Cientista fracassou como pai e marido

CÁSSIO LEITE VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 16 de abril de 1995, Hans Albert, filho mais velho de Einstein, chegou a Princeton (EUA) para um fim-de-semana. Dois dias depois, seu pai morreu, às primeiras horas da manhã.
O encontro foi um tipo de reconciliação. Ou melhor: talvez, a chance de Einstein se redimir de seus pecados como pai e marido.
Era o que faltava para quem dedicou a vida à paz, à ciência e à música.
"Viver em duradoura harmonia com uma mulher foi uma tarefa na qual falhei desgraçadamente por duas vezes", lamentou em carta à viúva de Michele Bosse, amigo e único mortal a receber um agradecimento no texto final da teoria da relatividade que foi publicado em 1905.
Como pai, não foi melhor. Desconhece-se, por exemplo, o destino de Liesert, filha nascida antes do casamento formal, em 1903, com Mileva Marie, sua primeira mulher. É quase certo que nunca a tenha conhecido.
Esquizofrênico, seu filho mais novo, Eduard (ou "Tete"). Perambulou de clínica em clínica até sua morte em 1965 em um centro psiquiátrico próximo a Zurique (Suíça).
A separação de Mileva veio em 1914; o divórcio, em 1919. Mãe e filhos voltam de Berlim para Zurique. Dificuldades com Tete a levaram a um tipo de paranóia.
Mileva morreu em 1948, acumulando no colchão uma pequena fortuna: parte dos então US$ 32 mil, quantia que Einstein recebeu pelo prêmio Nobel de 1921.

Única desistência
Hans Albert declarou: provavelmente, sou o único projeto do qual meu pai desistiu em toda sua vida.
Einstein sabia disso. Certa vez, resumiu com triste genialidade: "Devo procurar nas estrelas o que me é negado na terra".
A visita do filho mais velho, então professor de engenharia hidráulica, na Universidade da Califórnia, com certeza redimiu Einstein de suas "inabilidades" no casamento e na paternidade.
Era o que faltava ao humanitário, pacifista e maior cientista do século.
Hans Albert morreu do coração aos 69 anos nos EUA. Em seu túmulo permanece a inscrição: "Uma vida devotada a seus estudantes, à pesquisa, à natureza e à música".
Seu filho, Bernhard, em Berna (Suíça), é o último da dinastia.
(CLV)

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