São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Identificada nova bactéria do cólera no Brasil

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Pesquisadores brasileiros identificaram no Amazonas uma nova variante da bactéria que causa o cólera.
Batizado de variante Amazônia do Vibrio cholerae O1, o agente infeccioso produz uma toxina que destrói células com que entra em contato.
"Mas não podemos afirmar que se trata de uma variante muito virulenta, pois ainda não temos dados do quadro clínico que causa", disse à Folha João Ramos Andrade, da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Andrade publicou, junto com colegas da Fundação Oswaldo Cruz (RJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um artigo sobre o vibrião na edição de janeiro da revista técnica "Journal of Clinical Microbiology".
O vibrião foi identificado a partir de amostras coletadas de 14 pessoas suspeitas de terem a doença, em 1991, quando o governo federal armou uma operação de guerra para deter a ameaça de epidemia vinda do Peru.
Posteriormente as amostras foram transferidas para o Rio de Janeiro, onde foram submetidas a investigações mais detalhadas.
"Nos surpreendemos quando descobrimos que a estrutura genética dessas amostras era diferente do esperado", disse Andrade.
"Fizemos um rastreamento e chegamos a três cidades, São Paulo do Oliveira, Tonantins e Santa Rita Wheil, no alto Solimões".
Apesar de as 14 pessoas terem se recuperado, é fundamental investigar a fundo a nova variante.
O maior temor do microbiologista é que a variante entre em contato com o tipo de vibrião que está causando a atual epidemia, chamado El Tor.
"Há o risco de que ocorra uma troca genética", diz. A nova variante poderia adquirir o conjunto de genes que causa o cólera típico e ficar ainda mais virulenta.
O risco existe. O próprio El Tor, identificado na década de 30, inicialmente não preocupava os médicos, pois não causava a doença. Mas, em 1961, surgiram os primeiros casos graves de doença provocados por ele.
"O contato com o vibrião chamado clássico, o que mais preocupava até então, pode tê-lo tornado mais virulento", diz Andrade. "Hoje o El Tor se alastrou e é o responsável pela epidemia na América Latina".

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