São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Emissoras de TV apelam para programação óbvia

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assistir o segundo grupo do Rio de Janeiro é como ver Entrerriense e Itaperuna antes de um Fla-Flu, mas a Manchete parece achar que qualquer aspecto do Carnaval carioca desperta interesse e —pior ainda— é familiar a qualquer pessoa, em qualquer canto do Brasil, do Oiapoque ao distrito de Quadra, em Tatuí.
Assim, obscuros membros das escolas —algo assim como "vice-coordenador da subcomissão de evolução circular da ala das baianas da Unidos do Jacarezinho"— são entrevistados sobre seu importantíssimo trabalho (que sempre lhes toma "o ano inteiro") e suas expectativas em relação ao desempenho das rotundas soteropolitanas.
Na CNT, ouço dizer que no segundo grupo só há outra bateria, além do Jacarezinho, que impõe tanto respeito (suspense, ar grave e solene): é o Independente de Cordovil. Tem toda razão.
O pessoal do Aqui Agora, destacado para cobrir o baile do Scala (RJ) parecia pouco a vontade num ambiente sem viaturas e suspeitos -embora tivesse muitos crimes contra a estética, a criatividade e a língua portuguesa.
A apresentadora Eliane, no camarote VIP para receber celebridades, matou toda a saudade que sinto de Paula Dip no antigo TV Mix, da Gazeta, com uma única pergunta à mulher de Chico Recarey, promotor do baile: Qual a proposta que vocês fazem resgatando essa coisa de baile?. A resposta veio a altura: Nossa idéia é resgatar a família.
Já a repórter Célia Serafim, perambulando pelo salão, não conseguiu abandonar o "jornalismo verdade": subiu na mesa onde uma foliã extravasava alegria e celulite, e perguntou: "Você não tem vergonha de estar aqui em cima? Eu estou morrendo de vergonha".
Carnaval também é nutrição. Assistindo a Acadêmicos de Santa Cruz, que imprudentemente não distribuiu Dramin à galera ("...vatapá e acarajé, feijoada à noite inteira..."), um comentarista da Manchete informa que nos terreiros há pouca gente "de Ossanha", uma espécie de "deus do verde", e mais: quem é de Ossanha não pode comer verduras, porque seria "antropofagia". Credo.
Enquanto isso, o Jornal do SBT anuncia que o preço da mandioquinha chegou a R$ 8,90/kg, e o brócolis e o alface também estão pela hora da morte. Então, restaure-se a moralidade, ou "ossanhemo-nos" todos.

Texto Anterior: Mulher de Frota se aquece em São Paulo; Baile do Copa vende fantasia na porta; Monique Evans se fantasia com grãos;
Próximo Texto: Olinda une grupos de maracatu
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.