São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Medellín quer ser capital mundial da prevenção

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN

A cidade de Medellín (Colômbia), conhecida como capital mundial da droga, quer ser a "capital mundial da prevenção". A frase virou slogan de campanha apoiada pelas Nações Unidas, da qual participam 23 entidades locais.
A cidade também quer substituir o negócio da cocaína pelo das flores. O segundo produto de exportação de Medellín —depois dos tecidos— são cravos e orquídeas.
A cidade tem cerca de 50 mil usuários de drogas. A preocupação dos especialistas é com o perfil da cidade —sede do mais poderoso cartel de drogas do mundo. Há três anos, o cartel de Medellín distribuía 60% da coca "exportada" pela Colômbia —o país comercializa 70% da cocaína que vai para Europa e EUA.
Cerca de 20 pessoas são assassinadas por dia, o que equivale ao total de homicídios registrado em fins de semana em São Paulo, com população seis vezes maior.
Metade das mortes tem a ver com uso ou tráfico de drogas. Dos 6.000 assassinatos de 93, 1.800 foram causados por ajustes de contas entre grupos. De cada cem corpos que dão entrada no Instituto Médico Legal da cidade, 23% têm algum traço de cocaína no sangue.
A ONU e a Prefeitura de Medellín estão preocupadas com o futuro dos jovens que ainda não estão no mundo das drogas. Dos 1,9 milhões de habitantes da cidade, 520 mil têm entre 12 e 24 anos.
A cocaína pode ser achada em esquinas e é vendida livremente em bairros onde a polícia não entra. Um quilo da droga pode ser negociado na cidade por US$ 2.000, dez vezes menos que nos países consumidores. Uma rede de taxistas, que serve de informante para narcotraficantes, pode providenciar cocaína a qualquer hora.
"Não queremos mais esta fama", diz Carlos Horácio Velez Cano, 38, responsável pelo plano municipal de prevenção.
Para atingir os jovens, o programa de prevenção está utilizando rádios e TVs locais, além de um jornal mural que é afixado nos pontos de encontro.
No cemitério de San Pedro, no bairro de Sevilha, grupos de adolescentes se reúnem nos domingos para tocar violão e fumar maconha em memória a colegas mortos.
Uma ala inteira do cemitério está ocupada por vítimas de disputas entre gangues e das guerras entre grupos ligados ao narcotráfico.
A maioria morreu entre 90 e 94. São milhares de gavetas enfeitadas com maços de flores que amigos e a família trocam sempre.
Jorge Ruiz, 16, que deixou o trabalho e a escola, perdeu um irmão dois meses atrás. "Vou tomar seu lugar na turma", afirma.
"O ritual da morte já está incorporado na vida das famílias", diz Bertaluzia Gutierrez, que trabalha com jovens da periferia.

O jornalista AURELIANO BIANCARELLI viajou a Medellín a convite da UNDCP, programa das Nações Unidas para o controle de drogas.

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