São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Estudo diz que fumo indireto causa câncer

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Pessoas não-fumantes que convivem com fumantes têm até 150% mais chances de desenvolver câncer no pulmão em relação a quem não respira ar contaminado por fumaça de cigarros.
O dado foi divulgado na primeira edição deste ano da revista americana "Consumer Reports", um dos mais conceituados órgãos de defesa do consumidor nos EUA.
Segundo a revista, há pelo menos 33 estudos publicados no mundo sobre os efeitos da fumaça de cigarros na saúde de não-fumantes. Em 26 estudos foi comprovado o maior risco do desenvolvimento de câncer no pulmão.
O estudo mais recente foi feito no ano passado pela Environmental Protection Agency (EPA, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos).
A EPA concluiu que cresce em 19% o risco de câncer no pulmão para as pessoas não-fumantes casadas com alguém que fume.
Depois dessa descoberta, a EPA anunciou que fumaça causada por cigarros passava a ser considerada um agente cancerígeno.
Antes disso, a agência classificava a fumaça de cigarros como um "possível" ou "provável" agente cancerígeno. Pelos cálculos da EPA, a fumaça respirada por não-fumantes é responsável por cerca de 3.000 casos de câncer do pulmão, seguidos de morte, em adultos por ano nos EUA.
Segundo a revista "Consumer Reports", houve reação imediata da indústria de cigarros dos EUA, que fatura US$ 48 bilhões por ano no país. "A decisão da EPA foi a pior notícia para a indústria desde 1964, quando o Ministério da Saúde declarou que fumar causava câncer", diz a publicação.
Embora a decisão de classificar a fumaça de cigarro como cancerígena seja contestada na Justiça pela indústria do fumo, várias empresas se anteciparam e baniram o hábito de suas dependências.
A rede de fast-food Taco Bell e os militares norte-americanos já proibiram ou restringiram o fumo nos locais de trabalho. Cerca de 70% dos shopping centers dos EUA proíbem as pessoas de fumar nas suas lojas e corredores.
O maior problema para provar que fumaça de cigarro aumenta o risco de não-fumantes contrair câncer era a falta de estudos com humanos. A maioria dos estudos utilizava cobaias em laboratório.
O estudo da EPA e os outros 32 mencionados pela "Consumer Reports" analisaram pessoas não-fumantes que conviveram durante muito tempo com outras que tinham o hábito de fumar.
Ainda há dúvidas sobre quanto tempo uma pessoa tem que conviver com outra que fume para contrair câncer. O que se sabe é que o risco varia de acordo com o número de horas que se fica exposto à fumaça em um local fechado.
Como a EPA é um órgão do governo nos EUA, o estudo divulgado abriu uma avenida para que trabalhadores de todo o país possam processar seus empregadores.
Qualquer não-fumante com câncer no pulmão que tenha trabalhado onde havia fumantes poderá ir à Justiça à caça de ressarcimento.
Foi pensando nesse problema que os parlamentos de vários Estados norte-americanos —incluindo Califórnia, Maryland, Utah, Vermont e Washington— estão discutindo novas leis proibindo o fumo em locais de trabalho. Ou, pelo menos, restringindo essa prática a áreas especialmente ventiladas.

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