São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Investidor externo prevê valorização de 70%

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de ações brasileiro vai crescer 70% este ano apesar dos efeitos negativos da crise mexicana na confiança dos investidores externos nos papéis de países emergentes.
A previsão é de Stephen Rose, presidente da corretora Stephen Rose & Partners, de Londres, especializada na administração de recursos de investidores institucionais europeus nas Bolsas brasileiras.
"Creio que o mercado brasileiro vai oferecer grandes oportunidades de ganhos de capital em 95", diz Rose. Para ele, o Ibovespa encerrará o ano valendo US$ 30, uma valorização de 70% em relação ao início do ano (US$ 17).
Rose afirma, porém, que o mercado e ações, no primeiro semestre de 95, vai oscilar muito com volumes baixos de operações.
Isso ocorrerá até que os investidores estrangeiros, que, segundo ele, são a chave para qualquer mudança no atual clima de incerteza, avaliem melhor as chances de sucesso do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"As características de 95, por causa do México, serão mais de desconfiança e menos de euforia nos mercados emergentes em todo o mundo", prevê.
Rose diz que a situação econômica e política no México não tem paralelo no Brasil.
Apesar disso, afirma, a crise mexicana "colocou na retranca" os investidores estrangeiros dos mercados emergentes, principalmente os norte-americanos.
Se o México, que era considerado como o país emergente mais estável e de menor risco, apresentou um comportamento imprevisível, causando prejuízos de 50% em poucos dias, como confiar em qualquer um dos mercados menos maduros?
Rose diz que essa questão está no centro das preocupações dos investidores externos em relação a oportunidades de aplicações no mercado de ações brasileiro.
Infelizmente, diz, os investidores externos, principalmente os norte-americanos, tendem a considerar os mercados emergentes latino-americanos como "um setor" de investimentos, liderado pelo México.
"Quando um filho preferido, do qual se espera somente satisfações, causa uma grande decepção, a confiança nos outros sofre um grande abalo", diz.
Rose diz que o maior risco de uma retirada definitiva dos investidores externos do Brasil é uma possível crise na Argentina das mesmas proporções da que ocorreu no México no final de 94.
"Isso levaria os investidores estrangeiros a riscar toda a América Latina do mapa por algum tempo", acredita Rose.
Thomas Trebat, diretor executivo da divisão de pesquisas sobre mercados emergentes do Chemical Bank, de Nova York, e porta-voz do Instituto de Administração de Investimentos, dos EUA, concorda com Stephen Rose.
"Qualquer indício de fracasso irreversível do plano econômico argentino, como uma maxidesvalorização do peso frente ao dólar, terá consequências mais sérias e duradouras no mercado de ações brasileiro do que os atuais problemas mexicanos", diz.
Trebat diz que o Banco Central do Brasil deveria manter elevadas as reservas cambiais do país. "A redução das reservas brasileiras causaria ondas de choque nos investidores externos", diz.
Trebat prevê que, em reação à crise mexicana, os investidores estrangeiros adotarão uma atitude de pouco interesse e cautela no Brasil nos próximos três meses.
Até lá, diz Trebat, ou a crise mexicana já terá sido considerada "passageira" e superada, o que trará de volta a participação do capital estrangeiro nas bolsas latino-americanas, ou será vista como o início de uma fase de recessão na América Latina ou um novo "ciclo 82" (uma referência à crise da dívida externa deflagrada pelo México em 1982), o que fará os capitais externos migrarem em grande quantidade para os mercados emergentes asiáticos.

Texto Anterior: Financiamento está indefinido
Próximo Texto: COMO FICA SUA APLICAÇÃO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.