São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Polícia de NY vive sua maior crise da história

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

A "imbatível" polícia de Nova York é acusada de corrupção e passa pela maior crise de sua história. Ao todo, 30 policiais estão em julgamento desde março do ano passado por corrupção —14 deles já foram condenados.
Em janeiro deste ano, um novo escândalo estourou envolvendo outros 20 oficiais da cidade.
Eles estão sendo acusados de tráfico de drogas, crimes de extorsão, roubo, venda de armas e falso aprisionamento.
A cidade de Nova York tem 77 distritos policiais. Em seis deles existem denúncias de policiais envolvidos com corrupção.
Na última quarta-feira, o ex-policial John Arena, 32, foi acusado em julgamento de receber presentes de traficantes de drogas para, em troca, protegê-los.
Entre os presentes, Arena teria recebido uma moto, um Cadillac e a pintura do automóvel, no valor de US$ 3.000.
A testemunha é o ex-parceiro de Arena e ex-policial George Nova, 27, também acusado de corrupção e envolvimento com traficantes.

Sem estímulo
As primeiras denúncias de que a polícia estaria envolvida com tráfico de drogas surgiu, segundo o ex-delegado Walter Mark Jr., de traficantes que alegavam ser vítimas de brutalidade e corrupção da polícia nova-iorquina.
"Muitos policiais estão desestimulados porque percebem que quando ocorre algum incidente e o tira é morto, ele não faz falta ao departamento. Isso criou uma mentalidade de guerra entre os policiais", afirmou.
Investigadores internos da polícia e agentes externos localizaram os primeiros policiais envolvidos em corrupção durante uma operação de infiltração entre traficantes de droga no bairro do Bronx.
Para implementar a operação, o prefeito da cidade, Rudolph Giuliani, propôs a criação de uma agência independente formada por advogados para monitorar a polícia contra corrupção.
A agência, já aprovada pelo conselho da cidade, deve começar a atuar a partir de julho próximo.
O Comissário-chefe do Departamento de Polícia de Nova York, William Bratton, está enfrentando não apenas a crise das denúncias de corrupção, mas também a de cortes de pessoal, parte do projeto de redução de gastos do prefeito Giuliani, do Partido Republicano.
A crise dos cortes começou quando Rudolph Giuliani anunciou, na semana passada, a demissão de 28 oficiais da assessoria de imprensa do Departamento de Polícia da cidade.
O prefeito criticou a permissão dada a equipes de televisão para acompanharem ações da polícia —que registrou uma média de 1.340 assaltos para cada cem mil habitantes, em 1991.
Giuliani foi duramente criticado porque por um lado demite policiais treinados e, por outro, admite advogados para monitorar a polícia com custo anual de US$ 1 milhão aos cofres da prefeitura.
Como uma das soluções, Bratton propôs a retirada de policiais de cargos administrativos e suas transferências para postos de policiamento das ruas da cidade.
Com planos de acabar a corrupção no Departamento de Polícia da cidade, William Bratton afirmou em entrevista coletiva na semana passada que o assunto deve ser tratado "às claras".
"Sou a pessoa que tem maior interesse em extinguir a corrupção do Departamento de Polícia", disse o comissário Bratton.
Segundo ele, como uma das medidas anticorrupção, alguns policiais passarão por operações de simulação de combate ao tráfico de drogas e terão seus desempenhos avaliados.

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