São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Cardeal diz que modelo agrava pobreza

DA REDAÇÃO

O cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, afirmou ontem que o governo Fernando Henrique Cardoso deve resistir à tentação de implantar um modelo neoliberal no país.
Segundo o cardeal, o neoliberalismo agravaria ainda mais a situação dos 32 milhões de brasileiros que, segundo dados oficiais, não possuem condições mínimas de sobrevivência.
"O número de excluídos não vai diminuir, enquanto o capital se concentrar nas mãos de poucas pessoas", afirmou Arns.
As declarações foram dadas durante o lançamento da Campanha da Fraternidade, que este ano tem por tema a exclusão dos marginalizados.
Arns disse que as as entidades não-governamentais (ONGs) devem fazer pressão para impedir que o modelo neoliberal seja implantado no país.
"Por enquanto, o país não está no caminho certo, mas pode corrigir o rumo", observou.
O cardeal criticou também a manutenção do salários mínimo de R$ 70,00, enquanto os que têm cargos e influência tiveram aumentos de cerca de 100%, como os deputados, ministros e o presidente.
A correção da rota, segundo Arns, está nas mãos dos governantes. "Tenho confiança absoluta nessas pessoas, especialmente nesse homem com quem trabalhei mais de 15 anos em São Paulo e que agora governa o Brasil", afirmou Arns, referindo-se ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
O cardeal de São Paulo criticou a proposta do ministro José Serra de cobrar impostos de igrejas e instituições religiosas.
"O ministro do Planejamento não está a par da legislação, pois não sabe que a igreja goza de isenção porque é uma entidade de direito público, como reconheceu Rui Barbosa."
Depois de criticar o agravamento da exclusão social no país, Arns passou a palavra aos aposentados, moradores de rua e catadores de papel.
"Eu sou excluído porque cato papel nas calçadas e uma parte da sociedade não acha que eu faço um trabalho digno", queixou-se o pernambucano Evandro Floriano de Oliveira, 33 anos, que mora debaixo de um viaduto.

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