São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Químico foi pioneiro do cinema no Brasil

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O primeiro documento expedido no Brasil atestando a capacidade para o exercício da função de cinegrafista foi fornecido ao químico Conrado Wessel, em 1908, pela Gaumont Films, uma das produtoras mais antigas da França.
Wessel (1891-1993) conta em sua carta autobiográfica que recebeu o atestado das mãos de um cinegrafista da Gaumont, Colliot, que veio ao país contratado pela Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Por mais de seis meses, ele foi intérprete e ajudante do cinegrafista francês e ambos filmaram várias fazendas de café, colhendo cenas para a propaganda do produto na Europa.
Durante esse período, Wessel aproveitou para registrar a cidade de São Paulo, mostrando sequências curiosas feitas sobre um bonde de carga, que levava material da empresa de energia elétrica Light & Power Co.
Focalizou também a chegada dos imigrantes italianos e japoneses nas lavouras de café e o movimento da população no centro da capital, nas ruas 15 de Novembro e São Bento, praça da República e Escola Normal Caetano de Campos.
Embora tivesse reconhecidas as habilidades como cinegrafista, Wessel não se voltou à produção de filmes e, em 1911, foi para Viena para aperfeiçoar os conhecimentos de impressão e gravura.
Nascido na Argentina, Ubaldo Conrado Augusto Wessel chegou ao Brasil com menos de um ano e seu pai, Guilherme Wessel, fundou, em 1900, uma das primeiras casas de materiais fotográficos da cidade.
Depois das experiências com o cinema e dos estudos feitos na Europa, Conrado Wessel frequentou a Escola Politécnica e, em 1917, montou uma fábrica de papel fotográfico.
Iniciou a produção de emulsão química para fixação das imagens, obtendo a patente da invenção, em 1921, concedida por Epitácio Pessoa (1865-1942), presidente da República na época.
Wessel enfrentou problemas na distribuição do papel fotográfico, competindo com a empresa alemã Agfa e com a norte-americana Kodak, que dominavam o mercado brasileiro.
No entanto, com a revolução dos tenentes em São Paulo, em 1924, comandada pelo general Isidoro Dias Lopes, houve interrupção da entrega do material fotográfico e o papel Wessel passou a suprir os fotógrafos.
Os principais usuários do novo papel eram os fotógrafos ambulantes da Estação da Luz, conhecidos como lambe-lambes, que flagravam os visitantes do local.

Restrições
Devido à qualidade do produto, no final da década de 30, a Kodak adquiriu os direitos de seu uso. A partir daí, adotou no Brasil a marca "Kodak-Wessel", que figurou nas embalagens até 1954.
Na década de 30, o governo impunha restrições às indústrias estrangeiras que desejavam estabelecer-se no país. Foi a associação com o produto de Wessel que possibilitou a fixação da Kodak no Brasil, fugindo às restrições governamentais.
Deve-se ao pioneirismo do químico argentino a iniciativa da implantação da indústria de papéis fotográficos no país e a popularização do produto.
Alguns fatos concorreram para que Conrado Wessel inventasse o processo químico para a fabricação de material fotográfico.
Entre eles, a falta do produto que vinha da indústria alemã Agfa, devido ao bloqueio de importações provocado pela Primeira Grande Guerra (1914-1918).
Essa carência convenceu Wessel a abrir a fábrica em 1917 e realizar uma experiência empresarial que, de antemão, ele já reconhecia como bem-sucedida.
Wessel obteve a carta patente de sua invenção, motivado inclusive pelo ufanismo progressista da época, conforme diz em sua carta autobiográfica.
Nesse período presidencial (1919-1922), o país concretizou o desenvolvimento da indústria e da agricultura e comemorou o centenário da Independência com grandes festejos.
Também recebeu a visita de estadistas europeus e, em fevereiro de 22, em São Paulo, foi realizada a Semana de Arte Moderna, que iniciou o movimento modernista.

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