São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Diegues vai a país desconhecido

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Tem-se a impressão de que, em dado momento Carlos Diegues trocou a aridez e as aflições de um país que não se resolve pela necessidade de descoberta do Brasil.
Dessa mudança, "Bye Bye Brasil" parece ser o sintoma mais feliz, até porque a proposta é de um conhecimento físico. Trata-se de acompanhar a trajetória de um grupo mambembe, a Caravana Rolidei, que peregrina pelos fundões a bordo de um ônibus.
O ônibus, por sinal, estampa o equívoco de nossas relações com o mundo: o "holiday" inglês é transcrito à cabocla, sem por isso perder o significado festivo.
O lado alegre, por sua vez, não esconde o miserê em que vivem os participantes da caravana, e menos ainda a dos lugarejos por onde passam. É como se existisse aí uma clara reviravolta nas propostas do primeiro Cinema Novo: se não serve para conscientizar, a arte serve, em todo caso, para dar felicidade e afirmar um caráter.
Mas a passagem da caravana é também o sintoma de uma passagem. Existe um Brasil que desaparece e outro que nasce, um tanto torto, talvez, mas nasce. Vem impulsionado pelas transformações promovidas pelos governos militares (tecnologias, comunicações).
É o melhor filme de Carlos Diegues desde "A Grande Cidade" (1965). Tem contra si os excessos cenográficos (frequentes no cinema do diretor) e uma Betty Faria um tanto solta. Tem a favor, em compensação, a presença notável de Fábio Jr.
Foi um filme de sucesso, que bateu em uma tecla sensível: a troca do inconformismo preconcebido não pelo conformismo, mas pela necessidade de partir da observação das coisas como método de conhecer o mundo em que se vive.
(IA)

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