São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Christian leva instinto 'assassino' para a Indy

MAURO TAGLIAFERRI
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Christian Fittipaldi, 24, está de volta. Depois do título da Fórmula 3.000 européia, em 91, o brasileiro mergulhou numa aventura mal sucedida na Fórmula 1.
Dois anos na Minardi, um na Arrows e um inexpressivo 13º lugar no Mundial de 93 foram o suficiente para tirar sua motivação.
No início de fevereiro, o brasileiro anunciou que estava trocando a F-1 pela equipe Walker, da Indy. "Ninguém leva porrada a vida inteira e fica rindo", disse.
Bastaram os primeiros treinos nos EUA e Christian volta, não só a pensar em vitórias, mas em colocar seu "instinto assassino" nas pistas.

Folha - Quais seus objetivos para este ano na Indy?
Christian Fittipaldi - Antes de pensar no campeonato, tenho de pensar em algumas provas. Se fizer um bom trabalho, não cometer muitos erros, dá para ganhar uma ou duas corridas este ano. Quero conhecer muito bem o carro e vou ter que trabalhar duro nos ovais.
Folha - Que diferenças você sentiu entre um Indy e um F-1?
Christian - O Indy é parecido com o F-1 em curvas de alta, anda mais em linha reta e é mais lento nas curvas de baixa, porque é um pouco mais pesado. Mas achei que a diferença ia ser maior.
Folha - Já dá para confiar 100% no seu carro?
Christian - Ainda não. O carro, quanto à velocidade, não está mal, mas precisamos trabalhar mais sua constância. Na classificação devemos lutar de igual para igual com os Penskes, mas na corrida eles estão com uma pequena vantagem.
Folha - Que tipo de vantagem você leva sobre seus adversários pelo fato de vir da F-1?
Christian - A F-1 tem um nível altíssimo e o que eu aprendi lá está sendo útil na Indy. A prova disso são os testes que fiz. Sem muita quilometragem, já estou competitivo como os outros. Devo muito à F-1. Não fosse por ela, valeria muito menos no mercado.
Folha - A que se deve essa onda de jovens ingressando na Indy?
Christian - A Indy está mostrando para o mundo que ela é competitiva e que as ambições dos pilotos podem ser conquistadas lá.
A F-1 está indo por um caminho muito político. Se você não tiver apoio, ou financeiro, ou de alguma fábrica de motores, o teu começo fica muito difícil.
E, para mim, chegou uma hora em que correr num carro que não era competitivo passou a ir contra os meus princípios. Eu já não estava competindo, só participando.
Folha - O que faltou para você ser chamado por uma equipe grande na F-1?
Christian - Não sei. Em vários anos, tive contatos com grandes equipes. Benetton e McLaren foram as mais próximas. Em alguns momentos, o contato foi na hora errada, houve problemas políticos, às vezes queriam um piloto inglês e não brasileiro...
Eu sempre dei o máximo. E também não estou indo para a Indy como uma fuga. Eu tinha oportunidades para continuar na F-1, só que elas não eram suficientes para mostrar tudo o que tenho para mostrar há dez anos.
Folha - Você tem insistido que a Indy é mais competitiva que a F-1. Por quê?
Christian - Quando você acorda no domingo de manhã, é possível dar o nome de oito ou dez pilotos que têm chances de ganhar a corrida da Indy. Não dá para fazer o mesmo com a F-1.
Eu tenho muito mais prazer de entrar numa competição em que vou ter que batalhar para superar oito ou dez companheiros do que numa prova em que sei que, se eu guiar como um demônio, vou conseguir chegar em quinto ou sexto...
Folha - Você se acha melhor que o Damon Hill (vice-campeão da F-1, pela Williams)?
Christian - Eu confio no meu trabalho. O Hill correu comigo na F-3.000, eu fui campeão e ele chegou em quarto ou quinto, não ganhou nenhuma corrida, não fez nenhuma pole position...
Folha - No final de 94, você já estava menos ligado na F-1?
Christian - Com certeza, eu não estava na minha fase de maior motivação. Não há ser humano que consiga tomar porrada na cabeça a vida inteira e ficar supermotivado. Não era um desinteresse, mas aquela vontade, aquele "killer instinct" que você tem que ter neste esporte, faltava.

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