São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Argentina jogou 'desaparecidos' no mar

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um oficial reformado denunciou o atual comandante da Marinha argentina por encobrir o desaparecimento de acusados de subversão que teriam sido atirados ao mar durante a "guerra suja".
Adolfo Scilingo disse ontem que entre 1.500 e 2.000 presos políticos morreram dessa forma nos anos de 1976 e 1977.
É a primeira vez que um militar denuncia um superior por crime militar na Argentina. A história foi divulgada hoje pelo jornal "Página 12", de Buenos Aires.
Scilingo disse ter escrito cartas ao chefe do Estado-Maior da Marinha, almirante Enrique Molina Pico, pedindo que informasse a população dos fatos ocorridos e desse a lista dos desaparecidos. Carta semelhante foi enviada ao presidente Carlos Menem.
Scilingo afirmou ter decidido fazer denúncia judicial por não ter tido resposta a suas cartas.
O oficial era chefe de motores da Escola de Mecânica da Marinha, famosa por abrigar prisioneiros clandestinos do regime militar.
Antes de sair, os prisioneiros eram informados de que seriam transferidos. Viajavam contentes, afirmou Scilingo, que disse ter participado de tais missões.
Já sobre o mar, médicos aplicavam calmantes nos prisioneiros, que eram despidos e atirados.
Scilingo disse ainda que presenciou sessões de tortura na Escola de Mecânica e que corpos eram cremados na quadra de esportes.
Oficialmente, 8.900 pessoas desapareceram durante a ditadura militar (1976 a 1984), vítimas da "guerra suja". Organismos de defesa dos direitos humanos dizem que as vítimas foram 30 mil.
Sob a Presidência do general Jorge Rafael Videla (76 a 81), as Forças Armadas começaram a promover a caça, captura e execução de acusados de terrorismo ou subversão em operações clandestinas.
"Estávamos convencidos de que eram subversivos", disse Scilingo. "Na Marinha me ordenaram agir à margem da lei e me transformaram em delinquente."
Menem classificou Scilingo como um facínora e disse que ele já foi processado por desfalque. Não comentou as acusações feitas.

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