São Paulo, segunda-feira, 6 de março de 1995
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A física brasileira

LUÍS NASSIF

Na descoberta da última partícula do átomo —anunciada na semana passada simultaneamente em quatro países, foi dado pouco destaque à participação brasileira.
Havia mais material de agências internacionais, cobrindo o lançamento no exterior, do que linhas de texto sobre o anúncio brasileiro.
A descoberta foi decorrência do trabalho de 400 físicos, e outro tanto de engenheiros e técnicos, distribuídos por quatro grandes centros mundiais —um dos quais, o Brasil.
A contraparte brasileira foi uma equipe de 12 físicos e quatro engenheiros do Laboratório de Cosmologia e Física Experimental de Altas Energias do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas —uma entidade de mais de 40 anos, por onde passou o mais conceituado físico brasileiro da história, o campineiro César Lattes.
O resultado do trabalho de todas as equipes era aplicado em um acelerador de partículas, do tamanho de um prédio de seis andares localizado no Farmilab —o laboratório central do experimento.
No primeiro ano de pesquisas, o grupo brasileiro teve que paralisar suas operações, em função da interrupção das verbas federais com o Plano Cruzado (de 1986).
Desde governo Fernando Collor de Mello, o centro não recebe dinheiro em dia. Grande parte de seus projetos está paralisado por falta de verbas públicas.
Não tem verba anual e depende de liberações eventuais do Orçamento, que não lhes permite nenhuma programação de investimento.
Mesmo assim, com todo o descalabro do setor público, com a falta de compromissos com resultados que marcam a universidade brasileira, o ensino da física no país, distribuído por diversos centros regionais, está em linha com os centros mundiais mais avançados.
E os físicos em geral constituem-se em uma linha de resistência na Universidade, em defesa da excelência acadêmica.

Notável 1
Afinal, o que faz o ministro Extraordinário dos Esportes, Edson Arantes de Nascimento?
A tal cruzada moralizadora que pretendia comandar aparentemente visava apenas permitir-lhe fazer um armistício vantajoso com a Fifa (Federação Internacional de Futebol Association) e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Notável 2
O ministro da Saúde Adib Jatene está metendo os pés pelas mãos.
Em que pese suas virtudes pessoais e de médico, como ministro demonstrou afinidade apenas com frases de efeito e declarações tópicas de boas intenções —que garantem manchetes, mas não produzem resultados efetivos.
Há um profundo desânimo dos técnicos comprometidos com a municipalização da saúde, com seu voluntarismo, incontinência verbal e falta de afinidade com trabalho de grupo.

Notável 3
As declarações soltas do ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira, estão produzindo uma enorme corrida nas universidades, de professores solicitando aposentadoria.

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