São Paulo, segunda-feira, 6 de março de 1995 |
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Ressaca esfria o 'Sambódromo'
BIA ABRAMO
Antes do início da partida, parecia que ia ser uma festa. A tarde era de sol quase escaldante —o termômetro do Pacaembu marcava 30 graus—, a arquibancada quase tremia com o som dos surdos, as camisas negras e brancas dominavam o estádio. Carnaval e futebol prometiam se unir em verdadeira epifania. No momento em que o Pacaembu inteiro cantou o samba-enredo da Gaviões da Fiel de ponta a ponta e os jogadores se mostraram para as arquibancadas cheias, a paixão extremada e cega que rege a lógica do torcedor em geral —e do corintiano em particular— chegou no seu auge. O jogo, entretanto, se encarregou de desanimar os Gaviões. Os gritos de guerra, as músicas e coreografias foram sendo substituídas por xingamentos ao juiz e broncas nos jogadores. Aqui e ali se ensaia um "Timão ê o" ou um "o Viola é um terror", que não duram mais dos que alguns segundos. Um torcedor reclamava: "Essa Gaviões parece que está dormindo hoje." A alegria deu lugar à impaciência. Mas Gavião que é Gavião não dá o braço a torcer. Para Régis Rivera Ribeiro, 23, a explicação é simples. "Está todo mundo cansado." Jemerson Manecolo, 21, põe a culpa na partida e na ressaca: "O jogo está difícil e está todo mundo de ressaca das comemorações de ontem no Sambódromo. Geni Galvão, 17, vai direto ao ponto: "O jogo está uma droga, só dá bola para a Portuguesa." Tatuagens Mesmo com jogo ruim e empate, o amor pelo time às vezes se inscreve na pele. Marcos Rodrigues, 23, ostenta uma tatuagem que toma quase todo o seu braço direito: um gavião com as asas abertas e o símbolo do time. Ele fez a tatuagem há quatro anos e quer fazer outra, maior. "É um orgulho ter o símbolo do time no corpo. Vou morrer com isso." No intervalo, ele ainda acreditava que o jogo poderia sair do empate: "Daqui a pouco o Viola desencanta e mete dois na Portuguesa." Para ele, que desfilou no Sambódromo na noite de sábado, a torcida estava cansada. "Foi muita bagunça." Fabricio Marques, 18, tem uma tatuagem também de gavião nas costas. Ele mora em São José dos Campos e assiste todos os jogos do Corinthians. O desânimo da torcida para ele tem só uma explicação: "Faltou o gol". Cláudio Neves, 23, traz no peito o seu time. Um gavião perto e vermelho e a palavra Gaviões estão tatuados do lado esquerdo de seu tórax. "Sou corintiano, maloqueiro e sofredor", explica. Ele mora em Campinas e também vai onde o time está. Ele diz que a torcida não estava desanimada: "É assim mesmo. Só é melhor quando o Corinthians joga com o Palmeiras ou com o São Paulo." Tem quem não se contente com uma só tatuagem. Marcel de Siqueira, 18, tem duas: Fernando Moraes, 19, três. Eles moram em Piracicaba e vieram para a comemoração do título no Sambódromo. Dormiram na sede da Gaviões para não perder o jogo. Para Marcel, a razão de tanta paixão é uma só: "Por que Deus é corintiano." Texto Anterior: Árbitro foi o mais animado Próximo Texto: Leões da Fabulosa age despercebida Índice |
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