São Paulo, segunda-feira, 6 de março de 1995
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Menos pobre

Começa hoje, em Copenhague, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social, mais uma das megaconferências que a ONU vem promovendo nos últimos anos. Governantes de quase todo o mundo devem assinar, ao fim do encontro, no próximo domingo, um documento contendo nove compromissos, dois deles de uma enorme ambição: erradicar a pobreza e chegar a uma situação de pleno emprego.
Cravar metas tão ambiciosas é um risco. É razoável supor que jamais se chegará a um ponto em que a pobreza desapareça. Dados discutidos nas reuniões preparatórias mostram que a parcela da riqueza mundial que cabia aos 20% mais pobres diminuiu de 2,3% em 1960 para 1,3% em 1990.
Da mesma forma, a meta de chegar ao pleno emprego soa a utopia. Estudo da Organização Internacional do Trabalho mostra que a crise do emprego é hoje a pior desde a Grande Depressão dos anos 30.
Mas é possível olhar a Cúpula por um ângulo menos cético, se se fizer comparações com pelo menos um encontro semelhante e relativamente recente. Em 1990, também sob patrocínio da ONU, realizou-se o Encontro Mundial sobre a Infância, que também produziu metas específicas —no caso para melhorar a condição de vida das crianças.
O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) acaba de divulgar o balanço dos resultados alcançados entre o encontro de 1990 e 1994. É surpreendente. O número de mortes infantis em 1996 será reduzido em 2,5 milhões com relação a 1990. Haverá ainda uma redução de pelo menos 750 mil no número de crianças deficientes.
Na prática, os progressos são tanto uma realização dos governos de cada país quanto o efeito da vigilância crescente da sociedade civil.
O simples fato de se fixarem metas quantitativas permite a cobrança posterior e desloca a discussão do eixo puramente teórico ou ideológico. É possível medir o desempenho de um governo não por ser liberal, social-democrata, conservador etc, mas por atingir ou não metas com as quais se comprometeu.
É óbvio que não se imagina que a pobreza desaparecerá do mapa só pela vontade de governantes ou da sociedade. Mas o mínimo que se consegue é uma avaliação de desempenho menos subjetiva, menos politizada. Ou, parafraseando o tema da Cúpula, menos pobre.

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