São Paulo, segunda-feira, 6 de março de 1995
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São Paulo pode resistir

PAULO PEREIRA DA SILVA

A agonizante situação financeira de São Paulo é mais do que preocupante para o conjunto da sociedade e dramática para os trabalhadores que vivem em nosso Estado. E, ao contrário do que imaginam os desavisados, não pode ser resolvida pela ação isolada do governo Mário Covas. Exige, mais do que nunca, a união de muitos, uma verdadeira parceria pela defesa da cidadania e pela conquista de resultados, benefícios reais para a vida das pessoas.
Melhor que ninguém, os trabalhadores sabem o que é viver o dia-a-dia do desemprego crescente com a fuga das empresas, hospitais lotados e desequipados, escolas deterioradas e insuficientes, transportes coletivos saturados, regiões alagadas e estradas esburacadas com as enchentes, carência de moradias, falta de segurança, congestionamentos insuportáveis nas ruas das grandes cidades. Enfim, o verdadeiro inferno em que tem se transformado o cotidiano de todas as pessoas normais e que aqui tentam ganhar a vida trabalhando.
É preciso mudar. E mudar com muita vontade. Ao governo do Estado cabe o comando das iniciativas e, neste sentido, é positiva a recente campanha lançada pelo aumento em 20% da arrecadação do ICMS, com a perspectiva de diminuição de 1% desse imposto.
Mas se isso é um começo, todos sabem que pouco resolve, pois os problemas de São Paulo são os problemas do Brasil agravados, pois aqui a economia mais desenvolvida do país é obrigada a se mover atada à locomotiva estatal lerda, superada e ineficiente. É preciso uma verdadeira revolução para modernizar esta locomotiva e colocar São Paulo de novo em novos e modernos trilhos. São Paulo precisa e o governo Mário Covas pode liderar esta revolução necessária para mudar este modelo estatal que somente funciona para si mesmo. Que diariamente sangra o bolso dos contribuintes não para melhorar os serviços públicos essenciais ou para novos investimentos e manutenção de nossa infra-estrutura, mas para manter a sobrevida da máquina estatal corroída e corrompida.
Como entusiasmar a sociedade se não enfrentarmos —detonando— um Estado cujo principal item de sua arrecadação, o ICMS, é consumido em quase 80% pela folha de pagamentos do funcionalismo (e ainda assim com péssimos salários) e pelo pagamento de juros da dívida do Estado?
Como governar buscando soluções positivas para a maioria da população, convivendo com estatais endividadas e inchadas pelo empreguismo histórico apadrinhado pelos maus políticos?
Como enfrentar os problemas funcionais do governo somente recauchutando a administração e sem uma reforma administrativa e patrimonial que erradique o gigantismo da ineficiência, o corporativismo e o parasitismo do Estado?
É necessária a reorganização radical de nosso Estado. Queremos um Estado no exercício de funções que de fato lhe dizem respeito em uma sociedade moderna. Regulando e orientando políticas de desenvolvimento econômico e com meios para enfrentar bem os seus verdadeiros objetivos: a reforma do sistema educacional, da saúde, da segurança, das obras e serviços de infra-estrutura públicos —fundamentais para o cidadão ir e vir com tranquilidade para o trabalho e para o lazer, de políticas sociais compensatórias em favor dos desempregados, dos favelados, dos menores de rua, dos idosos desamparados e das vítimas de tragédias sociais.
Um Estado ágil e leve, com um funcionalismo enxuto, bem-pago e eficiente. Um Estado que racionalize seus ativos ociosos, que privatize a imensa maioria de suas estatais e terceirize ao máximo os serviços públicos. Um Estado liderado por um governo que exija da União o que é de São Paulo, que empolgue no plano nacional uma reforma tributária ampla e profunda e que não se curve às tentativas de tutela de um governo federal corresponsável por grande parte de nossas atuais desgraças.
Um Estado que possa mobilizar trabalhadores ávidos de trabalho e empresários, daqui e do exterior, com capacidade de investimentos da recuperação e expansão, com rapidez, de nossa imensa rede de equipamentos sociais hoje obsoletos.
Para que São Paulo não afunde de vez, é preciso que o governador Mário Covas seja mais do que audacioso. Ele precisa aliar, a tal audácia, aquela grandeza e disposição para o diálogo que conduz, sem traumas, a união dos setores sadios da sociedade. Desta união de governo capaz, trabalhadores não-corporativistas e empresários modernos, dispostos a humanizar o capitalismo, pode nascer aquela produtiva parceria a que já me referi. Uma verdadeira parceria pela defesa da cidadania dos paulistas e cuja prioridade política seja uma radical reforma do Estado. Reforma que possibilite, em uma primeira etapa, a recuperação de maneira sólida de nossa economia, de nosso padrão de vida e, sobretudo, dos milhares de empregos perdidos nos últimos anos.

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