São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
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Igreja de SP critica FHC na Dinamarca

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A COPENHAGUE

O presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e conselheiro especial do presidente Fernando Henrique Cardoso, Vilmar Faria, receberá hoje em Copenhague documento que, na prática, condena parte das políticas defendidas por FHC.
O texto foi elaborado pelo Vicariato dos Construtores da Sociedade, braço da Arquidiocese de São Paulo, após seminário com 120 participantes realizado sábado na capital paulista.
O texto foi preparado como contribuição da Arquidiocese à Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social, inaugurada ontem em Copenhague (Dinamarca).
Mas acaba sendo um documento de crítica pouco velada à posições do presidente da República.
O texto diz: "Não podemos esquecer da redistribuição da renda só porque a economia está crescendo, pois junto com ela cresce a pobreza relativa".
Em seguida, vem a crítica indireta à posições do governo: "É preciso aumentar o salário mínimo, o piso das aposentadorias e de pensões, acelerar a reforma agrária, reconstruir o sistema de saúde pública e encaminhar um programa de renda mínima".
O documento foi entregue a José Gregori, chefe de gabinete do ministro Nelson Jobim (Justiça) e membro da delegação brasileira à Cúpula de Copenhague.
Gregori, que já foi membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese e por isso tornou-se portador do trabalho, passa hoje a Vilmar Faria o texto.
O documento aponta também riscos para a estabilização da economia.
"A estabilização aumentou a renda real dos mais pobres, que aumentaram seu consumo e este está estimulando o crescimento da economia, um círculo vicioso infelizmente frágil, porque baseado na supervalorização da moeda, que, por sua vez, estava sustentada em forte entrada de capitais estrangeiros", diz o texto.
E mais: "Agora eles (capitais estrangeiros) estão saindo, o que coloca a estabilização em risco".
Outra crítica velada diz respeito à retórica, parcialmente assumida pelo governo, segundo a qual a melhoria da educação é essencial para melhorar a situação social.
O texto afirma: "Dizem os liberais que a única redistribuição que dá resultados é a melhora da escolaridade dos pobres, pois isso aumenta a sua produtividade e portanto sua renda".
E critica: "Há uma falácia nisso, pois quando a economia cresce menos do que a escolaridade, muitos dos que se diplomam não encontram emprego ou não encontram à altura de seus estudos".
O Vicariato foi criado por iniciativa de d. Paulo Evaristo Arns, eleitor de FHC, mas autor de crítica recente ao "neoliberalismo" do governo.

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