São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
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Valorização refletirá em tarifas públicas

ALBERTO FERNANDES; MÔNICA IZAGUIRRE; MARCOS CÉZARI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização do dólar deverá repercutir nos preços das tarifas públicas neste mês e no próximo, segundo avaliação de técnicos do Ministério da Fazenda.
As taxas de serviços básicos, como água e luz, influem em todos os preços da economia e esses prováveis reajustes pressionarão diretamente a inflação.
Essa nova pressão coincide com meses em que o governo já esperava um aumento da inflação, em função de datas-bases e do impacto dos reajustes das mensalidades.
A revisão da maioria das tarifas acontece em março e abril, porque esses meses são aniversário de suas conversões para URV.
Ontem, a equipe econômica tentou minimizar o efeito da valorização cambial sobre as taxas públicas. O presidente do Banco Central, Pérsio Arida, disse esperar que o aumento do dólar seja absorvido pelas margens de lucros das companhias elétricas e Petrobrás.
No entanto, ele reconheceu que pode haver repasse da valorização do dólar para os preços públicos. Já o ministro José Serra (Planejamento) garantiu que, para combustíveis, não haverá aumentos.
No caso das tarifas de eletricidade e de água, o governo não pode interferir diretamente sobre os preços, que são fixados por empresas estaduais.
Os custos das estatais que fornecem serviços básicos aumentam com o câmbio por que essas empresas têm dívidas externas em dólar ou, no caso da Petrobrás, importam matérias-primas.
A revisão das tarifas públicas são feitas segundo a planilha de custos das empresas. Até o mês passado, o governo pretendia usar o ganho que as estatais tiveram com o dólar desvalorizado para compensar aumentos de outros custos, como aumentos salariais.
Com isso, os preços das tarifas permaneceriam estáveis. Agora, com o aumento, não deve ser possível fazer essa compensação.
As medidas na área cambial adotadas ontem pelo governo terão impacto reduzido na inflação no curto prazo. A avaliação foi feita por especialistas em inflação da Fipe e do Dieese, que apuram o custo de vida em São Paulo.
Para o professor Heron do Carmo, assistente de coordenação do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, o impacto imediato sobre o custo de vida não será grande. A médio prazo, o aumento poderá ser mais significativo.
Avaliar o aumento agora "é pura futurologia", disse Heron. Neste mês, as maiores pressões virão ainda dos aluguéis e das mensalidades escolares. Em abril a pressão virá do vestuário.
O grande problema nos próximos meses será definir qual a trajetória do câmbio, diz Heron.
Segundo Heron, se a desvalorização for gradual ao longo do tempo o impacto sobre o custo de vida será diluído. Por outro lado, se o câmbio saltar para a banda superior, as pressões serão grandes.
Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese, diz que as reservas cambiais do país garantem a intervenção do Banco Central se houver necessidade de segurar a taxa dentro de certo limite.
Mendonça também concorda que se a taxa "pular" logo para a banda máxima o governo pode enfrentar problemas. O primeiro deles é o petróleo, dizem eles.
Dólar mais caro significa petróleo mais caro. Neste caso, é preciso saber o que o governo vai fazer com os preços dos derivados. Se repassar ao consumidor, todos os segmentos vão querer reajustar seus preços, avaliam.
(Alberto Fernandes, Mônica Izaguirre e Marcos Cézari)

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