São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995 |
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Causa foi risco de perder reserva
GUSTAVO PATÚ; ALBERTO FERNANDES
GUSTAVO PATÚ ALBERTO FERNANDES O risco de perdas maciças nas reservas em moeda forte do país, agravado pelas crises econômicas do México e da Argentina, fez o governo anunciar ontem a primeira desvalorização do real frente ao dólar desde o lançamento do Plano Real. Em comunicado editado pela manhã, o Banco Central determinou que a política de câmbio passará a seguir o chamado sistema de bandas: a cotação do dólar vai oscilar entre um valor mínimo de R$ 0,86 e um máximo de R$ 0,90. A partir de maio, o "teto" para o dólar passará a R$ 0,98, enquanto o "piso" ficará inalterado. Segundo o comunicado, o BÁ intervirá no mercado, comprando ou vendendo dólares, para que as cotações respeitem os limites fixados. O anúncio destas medidas provocou uma valorização de 3,49% no preço de venda do dólar, comparando-se a cotação de venda do câmbio livre de ontem com a de sexta-feira passada. Na prática, o BC sinalizou que promoverá uma subida contínua, porém gradual, do valor do dólar —que até o mês passado não ultrapassava R$ 0,84. É a primeira vez que o governo mexe na "âncora cambial" —a estratégia de controle da inflação baseada na valorização da moeda nacional diante do dólar, pilar do Plano Real. Os técnicos do governo avaliam que a mexida gerará pressões inflacionárias. A velocidade da valorização do dólar dependerá dos resultados obtidos. O governo quer elevar os superávits comerciais (exportações menos importações) e diminuir a fuga de capital especulativo do país. O documento diz que as bandas, ou "faixas de flutuação" do dólar, "serão definidas periodicamente pelo BÁ". Desta forma, o BÁ venderá dólares a R$ 0,93 em operações com vencimento em até 2 de maio. Este é o valor máximo estipulado pelo BÁ para a abertura do mês de maio.' O comunicado também sinaliza que, embora o teto para o dólar em maio seja de R$ 0,98, não se deve apostar em uma alta dessa ordem até lá. Perdas A valorização do dólar tem um objetivo certo: elevar fortemente os superávits comerciais. Segundo a Folha apurou, o BÁ projetava um superávit de US$ 5 bilhões para 1995 se a política cambial anterior, de não intervenção no mercado, fosse mantida. Tal superávit seria pequeno diante do déficit previsto na balança de serviços (juros da dívida, fretes e transferências ao exterior) de US$ 15 bilhões, também projetado pelo governo. Somadas a isso as fugas de capital especulativo, constantes desde o início da crise mexicana, haveria uma perda excessiva das reservas em dólar do BÁ, hoje na casa dos US$ 36 bilhões —problema já vivido por México e Argentina. Na avaliação da equipe do ministro Pedro Malan (Fazenda), o déficit em conta corrente (balança comercial menos balança de serviços) seria suportável se não houvesse um cenário internacional tão complicado, em que os investidores desconfiam de toda a América Latina. O acúmulo de más notícias da área externa durante o Carnaval precipitou a adoção do sistema de bandas, estudado desde o final do ano passado. A equipe econômica recebeu informações de que a crise mexicana avança fortemente no terreno político. Há ameaças até de golpe de Estado naquele país. Também circulou a informação de que as reservas argentinas vêm caindo rapidamente. Texto Anterior: Taxa de câmbio muda e pressiona preços Próximo Texto: Governo privilegiou contas externas Índice |
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