São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
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Economistas dizem que direção é correta

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O governo se mexeu no caminho certo. Diante do risco de uma crise externa que seria agravada pela sobrevalorização do real e de um impacto inflacionário decorrente da desvalorização da moeda, o governo optou, acertadamente, pelo segundo.
Essa é a posição da maioria dos economistas ouvidos ontem pela Folha a respeito da decisão do Banco Central que estabelece um sistema de bandas (chamado faixas de flutuação), de acordo com o qual o dólar deve oscilar entre R$ 0,86 e R$ 0,90 e, a partir de 2 de maio, entre R$ 0,86 e R$ 0,98.
"Até que enfim eles reconheceram que estavam equivocados e começaram a agir na direção correta", diz o ex-ministro e deputado Delfim Netto (PPR-SP). "Isso já deveria ter sido feito há mais tempo, mas o governo inventou que se mexesse no câmbio desencadearia um processo inflacionário, o que não é verdade".
Posição semelhante tem o economista Gilberto Dupas, diretor-presidente da Grano Conjuntura Econômica e Estratégia Empresarial. "A medida é oportuna e inteligente. O governo redefiniu posições sem romper com o coração do Plano Real", diz Dupas.
"É claro que alguns vão dizer que isso é pouco, mas eu queria ver esses críticos sugerirem algo melhor agora", completa.
O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, atual diretor da MCM Consultores Associados, é mais reticente. "O governo não precisaria desvalorizar o câmbio agora. A equipe econômica deve ter agido depois de fazer uma avaliação muito severa e grave dos riscos de um agravamento da situação externa", sustenta Maílson.
Discordando de Delfim, ele diz que há sim risco de um impacto inflacionário nos próximos meses. "O hábito da indexação está vivo nos empresários, nos políticos e nas lideranças sindicais", diz.
"Prevaleceu a máxima de (Mário Henrique) Simonsen: a inflação aleija, mas a crise no balanço de pagamentos mata", diz Maílson.
Até tomar a decisão de desvalorizar o real, o governo temia um déficit no balanço de pagamentos de US$ 10 bilhões a US$ 11 bilhões em 95. Teria fatalmente que recorrer às reservas para cobrir o rombo.
Discordando de todos, a economista e deputada Maria da Conceição Tavares (PT-RJ) diz estar "tristíssima" com a equipe econômica. "Isso não é maneira de se enfrentar a crise. Eles são bons professores, por que não explicam ao país que a coisa é séria, que o problema do México é gravíssimo e que os efeitos sobre o Brasil são enormes?", pergunta.
Segundo Conceição, o governo adotou a "tática do cinismo". "Preferiram dizer que não iriam mexer no câmbio e agora mexem. Que credibilidade tem um governo desses?", pergunta.

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