São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
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PM dá nova versão sobre morte

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

A versão do cabo PM Flávio Ferreira Carneiro, 32, para a morte do assaltante Cristiano de Moura Mesquita de Melo, 20, ocorrida na manhã de sábado, foi modificada ontem. A morte foi gravada por uma equipe da Rede Globo de Televisão.
Ao ser entrevistado na 10ª Delegacia Policial, ainda no sábado, Carneiro afirmou que dera tiros em legítima defesa, pois Melo, apesar de ferido, atirara nele.
Ontem, o advogado de Carneiro, Zairo Lara Filho, afirmou à Folha ter ouvido de seu cliente que o assaltante sacou uma arma, mas não chegou a atirar.
Lara Filho disse que vai insistir na tese que seu cliente matou Melo em legítima defesa.
As imagens gravadas pela Globo mostram Carneiro, parcialmente coberto, disparando contra Melo. Depois, um outro PM mostrou à equipe da TV uma pistola que teria sido usada pelo assaltante para tentar atingir Carneiro.
O próprio cabo Carneiro foi o responsável pela entrega, à 10ª DP, de armas supostamente apreendidas com dois dos três homens que tentaram assaltar uma drogaria no shopping Rio Sul, em Botafogo (zona sul do Rio).
Entre as armas está uma pistola 9 mm de marca Ruger, modelo P89DC —possivelmente, a mesma apresentada à equipe de TV.
Na relação de armas e munições apreendidas com alguns dos PMs que participaram da operação, está um carregador de pistola 9 mm com dez cápsulas intactas.
Não há, porém, entre as armas apreendidas com os PMs, qualquer pistola 9 mm. As armas da PM também foram apresentadas pelo cabo Carneiro.
Participaram da operação 12 soldados, mas só foram apreendidas quatro armas da PM: duas metralhadoras e dois revólveres calibre 38.
Ambos os revólveres tinham cinco cartuchos não disparados —por medida de segurança, os soldados não costumam preencher os seis espaços para balas existentes no tambor de um revólver 38.
Segundo a versão do cabo Carneiro, o assaltante estava com a pistola. Pouco antes, porém, Melo havia sido revistado pelo PM Almir de Almeida Lyra, que encontrara escondido, na altura da bainha de sua calça, um revólver 38.
No despacho em que determinou a prisão em flagrante de Carneiro, o delegado-titular da 10ª DP, Nilo Batista (homônimo do ex-governador do Estado), afirmou que o assaltante foi "fuzilado friamente" depois "de ter sido rendido, desarmado e impossibilitado de defesa".
O cabo PM está preso no Batalhão de Choque da PM. Por decisão do governador Marcello Alencar (PSDB), os outros 11 PMs que participaram da operação foram ouvidos na corporação e, em seguida, liberados.

Inquérito
A morte do assaltante deverá ser apurada pela Justiça Militar, porque ocorreu durante uma operação da PM. O responsável pelo crime, o cabo Carneiro, estava em serviço quando atirou em Melo, o que também determina a ida do caso para a Justiça Militar.
Ontem, o diretor no Brasil da Human Rights Watch/Americas, James Cavallaro, defendeu o fim da competência da Justiça Militar para julgar crimes de militares.
"Estamos acostumados a que os inquéritos militares não tenham resultado. Por isso defendemos justiça comum para PMs", disse.
A entidade também criticou declarações do governador Marcello Alencar, que considerou a morte um "excesso" que não deve ser utilizado para julgar a PM.

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