São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
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Por que as Bolsas estão em queda?

ANTÔNIO CARLOS VIANNA LAGE

A primeira justificativa que nos vem quando vamos analisar o fraco desempenho das Bolsas brasileiras recai sobre as dificuldades enfrentadas pela economia mexicana. Por tabela, as Bolsas brasileiras sofrem as consequências, em função da globalização do mercado acionário. No caso das Bolsas americanas, isso pode ser verdade, pois aquele já é um mercado um tanto saturado. Já com relação às Bolsas brasileiras, esse comportamento não condiz com as potencialidades de sua economia.
O mercado acionário nacional está aberto a investimentos estrangeiros, sejam americanos, europeus ou asiáticos, mas não pode se fragilizar quando esses investidores decidem realizar lucros ou procurar outros mercados. As Bolsas brasileiras precisam, antes de se internacionalizar, trabalhar para desenvolver o grande potencial de investimento existente no país. O aproveitamento das Bolsas nacionais está muito aquém da capacidade econômica do país.
As quedas sucessivas registradas pelas Bolsas brasileiras são decorrentes, em grande parte, de questões técnicas, como dar maior peso a ações de umas quatro empresas, num universo de 518 companhias registradas. Isto acaba desprestigiando grandes empresas (devido à atuação normal dos especuladores) que ficam com seus papéis cotados a preço baixíssimo.
Ora, todos nós conhecemos um dos mandamentos básicos do mercado acionário: comprar na baixa e vender na alta. Como os papéis já estão superbaratos, daqui a pouco tempo as Bolsas voltarão a registrar altas, mesmo que não ocorra nenhum fato econômico ou político para influenciá-las. Portanto, o que se pretende não é uma solução paliativa para as Bolsas, mas uma transformação fundamentada e segura para que as mesmas se fortaleçam e assumam o seu papel na economia.
Se retrocedermos um pouco, vamos constatar que as Bolsas brasileiras vêm registrando desempenho claudicante desde outubro do ano passado (dois meses antes do problema ocorrido com o câmbio mexicano). Numa atitude, à primeira vista, até incoerente, pois foi o mês da confirmação de Fernando Henrique Cardoso, o preferido do mercado, para a Presidência da República.
O Plano Real mostrou ser forte o suficiente para colocar de vez o país na rota do Primeiro Mundo, precisando, apenas, de alguns ajustes no câmbio. É verdade também que o suporte para o plano de estabilização econômica virá da aprovação das mudanças na Constituição, principalmente o ajuste fiscal, a quebra de monopólios e a reforma da Previdência Social.
Voltando às quedas sucessivas registradas nos últimos meses pelas Bolsas de Valores do país, chegamos à conclusão de que estamos equivocados ao achar que o mercado está dependendo do capital estrangeiro para se fortalecer. O capital externo é bem vindo e necessário. Mas não essencial.
O mercado acionário nacional está longe de ficar saturado. Podemos dizer que esse segmento do mercado de capitais atua com apenas 20% de seu potencial. Atualmente, só uma parcela de grandes empresas e grandes investidores atua nas Bolsas de Valores. Quantas empresas e investidores de médio porte o mercado pode angariar com uma campanha de esclarecimento, que abranja desde as informações básicas até um roteiro para diminuir os riscos inerentes ao mercado, além de mostrar às companhias como conseguir recursos para sua expansão, sem que para isso seja preciso ficarem endividadas.
A economia mexicana vai mal, mas a brasileira está em franca recuperação, com as empresas, em especial as registradas em Bolsa, obtendo excelentes resultados.
Por pensar assim, a CNBV (Comissão Nacional de Bolsas de Valores) decidiu investir numa campanha visando a promover o mercado acionário brasileiro.
Numa economia estável, os investimentos em Bolsas de Valores devem ser a longo prazo. As aplicações em ações passam a funcionar como poupança, ou seja, os acionistas passam a contar com os rendimentos (dividendos) distribuídos pelas empresas. Porém, atitudes como as do Banco do Brasil —que decidiu não distribuir dividendos relativos ao segundo semestre do ano passado e postergar o pagamento dos dividendos correspondentes ao primeiro semestre— contribuem para afastar os investidores do mercado de ações.
O mercado acionário precisa, também, de uma atenção maior do governo, que ainda não percebeu que as Bolsas de Valores podem ser grandes aliadas, por exemplo, no combate ao desemprego —empresas capitalizadas investem na produção, gerando novas frentes de trabalho, sem que para isso o governo tenha que fazer empréstimos muitas vezes desvantajosos, onerando o Estado.
As Bolsas, por sua vez, devem ir ao encontro de novas empresas, sediadas, principalmente, no interior, como o de Minas, onde existem várias companhias de porte que podem se expandir ainda mais através do mercado acionário. Um trabalho sério junto a essas empresas, com certeza, traria bons resultados para as Bolsas e o Estado.

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