São Paulo, terça-feira, 7 de março de 1995
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Parque dos dinossauros

Num momento em que algumas vozes se aproveitam da crise mexicana para tentar ressuscitar ideologias moribundas, o artigo do deputado Roberto Campos (PPR-RJ), publicado domingo nesta Folha, serve como um lúcido alerta de que a privatização continua sendo um imperativo inafastável.
O artigo, baseado em dados oficiais, refuta o mito das estatais rentáveis. Analisando empresas consideradas as jóias da coroa do estatismo nacional (Vale do Rio Doce, Eletrobrás, Petrobrás e Telebrás), Campos conclui que, na média de 90 a 93, os aportes do Tesouro a essas empresas superaram os dividendos por elas pagos à União em US$ 166 milhões. Dinheiro retirado, é claro, do bolso dos contribuintes.
Mais ainda, ressalta que os supostos recursos próprios dessas empresas usados para investimentos em boa parte correspondem a renúncias fiscais do Estado.
Se saem caro para a União, essas estatais são pródigas com seus funcionários. Repassaram a seus fundos de pensão US$ 1,9 bilhão de 90 a 92. A notícia de que o governo deverá cobrir um rombo de US$ 70 milhões da Petros (fundo ligado à Petrobrás) só reafirma tal distorção.
Há quem ainda alegue que só empresas estatais levam em conta o interesse social na sua atuação, o que beneficiaria a população mais pobre. O exemplo da deprimente —e anti-social— situação da telefonia no Brasil, com serviços caros e oferta diminuta, basta para escancarar o engodo desse argumento.
A informação, divulgada ontem, de que o governo estuda vender a Companhia Vale do Rio Doce só pode ser assim vista com muito bons olhos. Ela sinaliza uma bem-vinda disposição de romper o marasmo que tomou conta da privatização nos últimos tempos.
Desideologizar o debate e esmiuçar os dados concretos, como faz Campos, é um excelente meio de afastar tabus e falácias. E de realçar o fato, aberrante sob todos os ângulos, de que os grandes prejudicados com a sobrevivência dos dinossauros estatais somos todos nós, seus legítimos proprietários.

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