São Paulo, quarta-feira, de dezembro de |
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Diretor tira beleza da violência
INÁCIO ARAUJO
A realidade era mais complexa. Primeiro do ponto de vista econômico. Hong Kong de certo modo havia tomado o lugar, no Oriente, do cinema japonês. Era também o lugar com maior frequência per capita às salas no mundo. Uma TV atrasada ajudava os negócios. Daí a existência de produtores fortes, como os irmãos Shaw. Mas o essencial do que foi revelado era mesmo de caráter estético. Soubemos, por exemplo, que os filmes de artes marciais são uma tradição que remonta ao cinema mudo, influenciada pelos filmes dos EUA. A publicação de uma série de fotos de filmes de King Hu, famoso diretor local que precede a era Bruce Lee (Bruce vigora entre 1971 e 73) é que deixou todo mundo com orelha em pé: mostravam apuro, empenho e rigor que não costumavam chegar até o Brasil. Espera-se, ainda, uma mostra deste diretor por aqui. O sucesso de um John Woo não sai, portanto, do nada. Ele se filia à tradição do cinema como arte popular e ao filme de violência. Mas o essencial de seus trabalhos vem de um investimento pesado na coreografia. Às vezes parece, diante de seus filmes, que vemos um roteiro de Sam Peckinpah dirigido por Vincente Minnelli. São uma espécie de musical movido a balas. A isso, acrescenta um sensível trabalho sobre o tempo, que parece mesmo inspirado em Peckinpah e nos japoneses. Não apenas câmera, cenário e atores são os mecanismos de sua coreografia, mas a própria película. Woo distorce o tempo, alterna câmera lenta e câmera rápida, desmembra o movimento, busca tirar todo o efeito expressivo de um salto, de um crispamento de rosto. Outras vezes faz o personagem submergir na velocidade exagerada do gesto, do qual resta na tela apenas um traço, uma abstração. O conjunto parece namorar, de fato, a idéia de purificação, que se dá pela transfiguração da violência em beleza. Texto Anterior: Woo quer filmar épico em Hong Kong Próximo Texto: Hong Kong dá lições de sobrevivência Índice |
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