São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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Procura-se um bibliotecário

MARIO GARCÍA-GUILLÉN

No dia 20 de maio de 1935, foram lidas no Congresso Internacional de Bibliotecas, as considerações do filósofo espanhol José Ortega y Gasset sobre a "Missão do Bibliotecário".
Mas, o que é o bibliotecário hoje? Que representa e o que é o seu objeto de atividade: o livro?
O drama é grande e tremendamente atual porque vivemos um momento de enorme produção de livros.
Há mais livros em cada tema do que aqueles que podem ser lidos e, todos eles, graças à missão do bibliotecário, catalogados, arquivados e fichados. Todos, quase que sem exceção, pois o registro do livro passou a ser obrigatório.
A profissão está regulamentada, mas não conseguiu, como escrevera Ortega, eliminar o supérfluo. Com medo de que essa fosse limitar a liberdade, tudo ficou arquivado, mesmo em se tratando de teorias falsas ou equivocadas.
A seleção que não se decidiram a fazer os bibliotecários foi feita pelos CD-ROM, livros do futuro. O futuro é rápido demais. Hoje a informação e a imaginação estão condensadas num disquete que soma textos a imagens e sons.
Podemos obter ótimas sensações na leitura de um livro. Depende da imaginação e cultura de cada um. Mas no CD-ROM estas podem ser, a um simples toque, animadas! Dura concorrência, pois o homem atual opta pelo menor esforço.
Mesmo assim, como a produção livresca não pára, o problema do bibliotecário é cada vez maior. E sua responsabilidade também.
Quando um crítico julga uma tese doutoral ou o livro que está lendo, está confirmando a sua vitalidade e importância.
A crítica do objeto ou da idéia nos mantém vivos, nos obriga a pensar e repensar os valores apreendidos. A função da crítica é vital, mas anda doente e distante.
É importante relembrar, na semana do bibliotecário, que além de técnico especialista, foi relegado à simples burocrata ou funcionário público.
Ele que deveria ser o guardião, o crítico e fundamental elemento no processo de informatização para passar, e com rigor, aquilo que for fundamental para as novas linguagens. Seja CD-ROM ou o que quer que vier por aí para preservar as obras e idéias da humanidade.
Os homens de letras, andam, como Diógenes, com a lanterna na mão. Ele procurava um homem. Nós procuramos bibliotecários de verdade, que saibam separar o essencial do supérfluo, sem fazer disso uma repetição da censura. Eis o dilema.

MÁRIO GARCÍA-GUILLÉN, 52, é professor da Faculdade Ibero Americana, escritor e diretor dos cursos de espanhol do Centro de Artes de São Paulo e adido cultural do Consulado Geral da Espanha.

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