São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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Assaltante recebeu 6 tiros, diz laudo

ROBERTO MACHADO

ROBERTO MACHADO; RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Cristiano de Melo —assassinado pelo cabo da Polícia Militar Flávio Carneiro, no sábado passado— foi morto com seis tiros, segundo o laudo complementar do IML (Instituto Médico Legal) apresentado ontem.
O cadáver foi exumado anteontem e submetido a novo exame médico. Segundo o delegado-titular da 10ª DP (Delegacia Policial), Nilo Augusto Batista, no primeiro laudo do IML, mantido em sigilo, foram registrados cinco tiros.
Batista afirmou que pretende convocar o soldado da PM Walmyr de Almeida Lyra para um novo depoimento. "Não fiquei satisfeito com o primeiro", disse.
Ele considerou "estranho" o fato de Lyra ter arrastado Melo, sem algemas, para trás da Kombi, momentos antes de Carneiro ter disparado contra o suposto assaltante.
O laudo complementar aponta que Melo levou três tiros pela frente (no pescoço, peito e braço esquerdo) e três por trás (dois na mão e um no braço esquerdo).
Segundo o laudo, o novo exame "evidenciou três ferimentos pelas costas", o que pode comprometer a tese sustentada por Carneio, que diz ter agido em legítima defesa.
Segundo Carneiro, Melo teria lhe apontado uma arma, além daquela que foi apreendida pelos policiais antes do crime.
Batista afirmou que só o exame de balística, que está a cargo do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), poderá apontar de quais armas partiram os disparos.
Relatório da PM menciona que Carneiro portava um revólver calibre 38. Imagens da Rede Globo de Televisão, que documentou a ação do policial, mostram que ele tinha duas armas no momento do crime.
Batista reconheceu que as imagens mostram que Carneiro portava duas armas. Reproduções fotográficas das imagens já estariam anexadas aos autos do processo.
Segundo Batista, depois de divulgado o laudo do IML, as investigações entrarão em uma fase decisiva. "Sei de muita coisa que só me resta provar", afirmou.
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, defendeu mudança na legislação para que crimes de homicídio praticados por PMs passem a ser julgados pela Justiça comum.
Segundo ele, a morte de Melo servirá para intensificar a discussão no Senado de projeto de lei que estabelece essa alteração.
O projeto de lei que tira da Justiça Militar a competência para julgar crimes praticados por PMs foi aprovado na Câmara dos Deputados na legislatura passada e agora está no Senado.

Colaborou RONI LIMA, da Sucursal do Rio.

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