São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995 |
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BC faz 32 leilões para segurar dólar
JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
Foram 16 atuações no comercial (exportações e importações) e outras 16 no flutuante (dólar-turismo). O recorde de atuações anterior, do dia 16 de novembro, era de 13 vezes. No comercial, o BC vendeu sempre pela cotação de R$ 0,888, menos no penúltimo leilão, fixado a R$ 0,884. No flutuante, a cotação foi sempre de R$ 0,895. Na soma dos últimos três dias, avalia o mercado, o país perdeu ao redor de US$ 6 bilhões de suas reservas internacionais. Os dólares vendidos no comercial não necessariamente estão saíndo do país. Os bancos são obrigados a depositar no BC o volume que exceder US$ 50 milhões. Na quarta-feira, último dado oficial divulgado, saíram do país US$ 587,2 milhões, contra US$ 175,7 milhões no dia anterior. Pela primeira vez desde 19 de janeiro, o dólar paralelo voltou a registrar ágio em relação à cotação do comercial. O paralelo fechou, na venda, em R$ 0,90, enquanto o comercial ficou em R$ 0,889. Em dia de extremo nervosismo, o mercado colocou o BC contra a parede: comprou dólares e apostou em uma alta dos juros. Segundo a Folha apurou, alguns bancos e investidores estrangeiros receberam ordens para "zerar" suas posições. Isto incluía desde a venda de ações até a compra de dólares. Além desta demanda, existia outra: a dos perdedores. Nos últimos nove meses o Brasil conviveu com um dólar barato, incentivando bancos e empresas a se endividarem em dólar. E o preço do dólar aumentou. Ou seja, o nervosismo espelha tanto uma crise de confiança quanto prejuízos operacionais. Nos últimos três dias, segundo cálculos de analistas, R$ 500 milhões mudaram de mãos no mercado futuro de dólar na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Parte deste valor não significa uma perda efetiva —são operações para proteger outras anteriormente realizadas ("hegde"). Pela fórmula da nova política cambial —pelo menos a que o mercado entendeu como correta depois que o BC cometeu graves erros de operação na última segunda-feira—, o juro interno é igual ao juro externo mais a variação do câmbio mais um prêmio pelo chamado "risco Brasil". Logo, se o câmbio subiu —na sexta, o dólar foi negociado a R$ 0,858—, o juro deveria subir. O BC resiste a esta nova elevação —que poderia aumentar o grau de desconfiança no Plano Real. O México, por exemplo, aumentou os juros no dia seguinte ao da crise cambial e o peso despencou mais ainda. Se a avaliação do mercado estiver correta, o BC vendeu ontem o equivalente a quase 30% do dinheiro em circulação da economia. Quando o BC vende dólares, ele resgata reais. Os bancos pagam hoje ao BC, em reais, os dólares comprados ontem. Na prática, isto significa que o BC, por vias indiretas, está "enxugando" a economia. O preço do real, que é o juro, vai aumentar. O mercado prevê uma explosão. Na quarta, o mercado futuro previa que o juro efetivo deste mês ficaria em 3,59%. Ontem, o mercado fechou projetando 4,43%. A necessidade de "fazer" reais apareceu mais visível nas Bolsas. A Bolsa paulista fechou em baixa de 9,52%. LEIA MAIS sobre câmbio nas págs. 2-3 e 2-4 Próximo Texto: Efeito tequila; Liderança mantida; Economia de escala; Fogueira de vaidades; Pneus esvaziados; Na adversidade; Exercício melhor; Há expectativas; Há intervalos; Grandes negócios; Capitais privados Índice |
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