São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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Os próximos passos do câmbio

LUÍS NASSIF

"Entramos de gaiatos na crise mexicana". A afirmação desalentada do operador de mercado é mostra do desgaste inútil que foram esses três dias de tiroteio cambial. Desastres inevitáveis são mais fáceis de serem absorvidos do que os desastres da imprevidência.
Seja qual fosse a trajetória, o país teria um caminho duro pela frente. Os desacertos dos últimos dias aumentaram substancialmente as dificuldades. Mas o que importa é saber o que ocorre daqui para a frente.
As apostas dos especuladores contra o BC centram-se em um só indicador: o nível da fuga de dólares do país. Se ocorrer, eles ganham vendendo para quem quiser sair. Se não ocorrer na proporção que esperam, eles "micam" com os dólares, e terão de revendê-los com prejuízos.
Na terça-feira, houve saída recorde de recursos externos —mais de US$ 500 milhões. Ontem, o presidente do Banco Central, Pérsio Arida, garantia que os dólares vendidos pelo banco permaneciam no Brasil —e seriam recuperados mais adiante.
Mas havia indícios de fuga de recursos estrangeiros nos fundos de renda fixa, nos fundos de dívida externa e nas bolsas. Em que nível ainda não estava claro?
Relaxar e esperar
No fundo, quem aposta contra o BC está confiante que a Argentina quebrará nos próximos dias, precipitando a corrida definitiva do investimento estrangeiro especulativo da América Latina.
Foi em cima desses rumores que os especuladores começaram a testar o limite de alta da tal da banda cambial (ou, como sugere um leitor mais racional, da faixa de variação do dólar).
Mais uma vez, o BC mostrou falta de preparo para tratar com esses atrevimentos. Em outros tempos, ao primeiro sinal de desafio, despejaria um direto no queixo do adversário, inundando o mercado com dólares. Abortaria o movimento, derrubaria as cotações, e recompraria os dólares na baixa, refazendo seu caixa.
Ontem, o BC limitou-se a distribuir "jabs" sobre os adversários, que não se intimidaram —a julgar pela necessidade de repetir dezenas de vezes os leilões.
De qualquer forma, o caminho é vencer ou vencer. Continuar pagando para ver, aguardar o refluxo desse movimento especulativo e preparar o segundo tempo do jogo. Na máximo, o movimento especulativo corresponderá ao volume de dólares especulativos acumulados pela louca política cambial do ano passado.
Passado esse movimento, ainda haverá bom estoque de reservas, e os investidores que não conseguiram se desfazer de seus dólares terão de desová-los.

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