São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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O jogo da sucessão

SÍLVIO LANCELLOTTI

Mais um tema crucial, importantíssimo, aquele da violência das torcidas, começa a se intrometer na briga política de bastidores pelo poder na Fifa.
Embora obviamente preocupada com a escalada da agressividade nos estádios do planeta, a Fifa prefere se eximir de responsabilidades.
Do lado oposto, na Europa, cresce um movimento de governos que não mais pretendem gastar dinheiro com a questão da segurança no esporte. As federações e os clubes que se virem, dizem esses governos.
As manifestações mais fortes partem, precisamente, de dois países de futebol rico e poderoso, a Alemanha e a Itália. Os germânicos consomem, na vigilância e na proteção das torcidas, cerca de US$ 40 milhões por temporada —um dinheiro que, segundo eles, seria melhor aproveitado na educação ou na assistência social. Corre no parlamento da Alemanha um projeto de lei que compele a federação e os clubes a executarem, exclusivamente eles, o policiamento em seus campos.
Na Itália, paralelamente, o Senado já aprovou uma lei de emergência que obriga os clubes a pagarem os prejuízos causados por seus torcedores nos casos de batalhas de rua e de depredações. O raciocínio é simplérrimo: se os clubes dispõem de gordas fortunas para bancar os contratos de jogadores caríssimos, nada mais justo que se encarreguem também das despesas com a segurança das aqruibancadas.
A tal postura o boletim "FifaNews", o informativo oficial da entidade, respondeu na primeira semana de março com um fogoso editorial, assinado pelo suíço Sepp Blatter, o seu secretário-geral. A Fifa se declara impotente na luta contra a violência das torcidas e devolve o problema aos governos de plantão. Aliás, nos mesmos dias, uma entrevista concedida pelo presidente João Havelange ao jornal italiano "La Gazzetta dello Sport" enfatizou a pilatiana lavagem de mãos dos cartolas da Fifa.
O cenário é de confronto direto. E das suas consequências certamente desfrutarão ambos os lados. A Fifa, para eventualmente dilapidar o prestígio das federações da Alemanha e da Itália, por extensão da sua rivalíssima Uefa. Os europeus, claro, para desmoralizarem a atual gestão da Fifa, segundo eles incapaz de participar da solução do problema mais grave do esporte do planeta no momento.
Está em jogo, nesse conflito, apenas, a sucessão de Havelange.

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