São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 1995
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'Adoráveis Mulheres' pode ser delicioso

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Filme: Adoráveis Mulheres
Produção: EUA, 1994
Direção: Gillian Armstrong
Elenco: Winona Ryder, Gabriel Byrne, Susan Sarandon, Trini Alvarado
Estréia: hoje nos cines Metro 1, Gemini 1 e Eldorado 2

Estréia hoje nos cinemas de São Paulo "Adoráveis Mulheres", terceira e mais nova versão do filme "Mulherzinhas" (Little Women) —o original é de George Cukor, 1933—, baseado em romance homônimo (1868) da americana Louisa May Alcott.
A diretora australiana Gillian Armstrong reproduz em tons de cartão postal hollywoodiano, com muita neve, muita árvore de Natal e muito amor familiar, a história da adolescência das quatro irmãs March e sua luta pela sobrevivência nos EUA da guerra civil.
Apoiada por uma fotografia impecável, pelo acertado roteiro de Robin Swicord e a excelente atuação de Winona Ryder —indicada para o Oscar de melhor atriz no papel da protagonista Jo—, Armstrong conseguiu recuperar para o público do século 21 o que há de essencial e atemporal nessa história do século 19: a tese moralizante de que "a necessidade é a mãe da invenção".
Trata-se de um comovente filmão americano, que vai aparecer bobo para quem não conhece o livro autobiográfico de Louisa May Alcott, essa escritora que cresceu numa curiosa comunidade alternativa formada pelos artistas transcendentalistas americanos, em meados do século 19.
O filme de Armstrong não deixou de misturar à pequena tragédia familiar das irmãs March a dose de humor que também predomina no romance e é responsável, em grande parte, pelo interesse que a narrativa desperta.
As irmãs March enfrentam com desobediência civil, feminismo precoce e humor os imprevistos da vida adulta que espera por elas na soleira da porta. O imprevisto se impõe pela falta de dinheiro, pela experiência limitada, pela impulsividade juvenil. Tudo se transforma numa aventura em que a improvisação e a persistência na busca da melhor solução para os problemas gera o suspense da história.
O filme se apóia em grande parte na figura de Jo (a própria Alcott), a segunda irmã, talentosa e de temperamento forte, reserva afetiva e intelectual da família, exemplo da invejável liberdade de ação que a família March-Alcott experimentava para a época.
Jo é a artista das quatro irmãs, escritora e dramaturga amadora, que revira a casa com a montagem de suas peças onde é ao mesmo tempo autora, diretora e atriz, juntamente com as irmãs.
No filme, o humor é também veiculado através de certos recursos de linguagem, que aproximam o espectador da atmosfera da época. É o que ocorre quando a irmã mais velha, Meg, pede a Jo para não usar a palavra "awful" (horrível), então considerada gíria.
Sucesso de público nos EUA, "Adoráveis Mulheres" tem muitos motivos para agradar o "American way of life" —a tendência moralizante, o culto à família, o otimismo entusiástico etc.—, mas pode ser visto apenas como um filme delicioso, onde comprovamos com nostalgia que a tristeza e a amargura da infância enfrentamos todos, com criatividade ingênua, cômica mesmo, mas tão eficaz que só por isso sobrevivemos.

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