São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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Dickinson abandona passado em nova turnê

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Bruce Dickinson, 35, imagina os shows da próxima semana em São Paulo e no Rio como férias, diante do que sua banda passou há três meses, ao tocar na Bósnia. "Atravessamos um campo de batalha", ele conta.
O ex-vocalista do grupo inglês Iron Maiden apresenta as músicas de seu segundo disco solo, "Balls to Picasso", de terça a quinta no Olympia (r. Clélia, 1.517, Lapa, tel. 011/252-6255).
Nenhum hit do Maiden consta do repertório. "Não quero viver do passado", ele explicou à Folha, por telefone, de Santiago (no Chile), por onde começou, ontem, sua turnê pela América do Sul.
Ele já esteve no Brasil duas vezes —em 1985, no Rock in Rio, e em 1992, em sua última turnê como vocalista do Iron Maiden.

Folha - Não foi perigoso incluir a Bósnia na turnê?
Bruce Dickinson - Muito. Para entrar em Sarajevo, tivemos que viajar oito horas na traseira de um caminhão, dormindo sobre nosso equipamento e congelando de frio.
Entramos no meio de um campo de batalha, coberto por neblina e crateras de bombas. Os tiros tinham cessado há apenas duas horas. Tivemos escolta militar e, durante a noite, nos aquecemos com o fogo dos soldados da força de paz das Nações Unidas, que pediram nossos autógrafos.
Folha - Você planeja outro show em condições de disparar a adrenalina nessa turnê?
Dickinson - Os caras da banda mal fizeram 20 anos e estão achando tudo uma grande aventura. Mas já disse para eles: "Esperem até ver as mulheres do Brasil". Andar nas praias do Rio é o que eu chamo de verdadeira excitação.
Folha - A banda dos shows é a mesma que gravou o álbum?
Dickinson - A banda se tornou permanente. Eu devo até parar de gravar como Bruce Dickinson, para que os discos tenham o nome dela —que ainda não escolhemos.
Folha - A reação apaixonada dos fãs à sua última turnê com o Maiden não o fez reconsiderar a decisão de abandonar a banda?
Dickinson - Fiquei bastante emocionado, especialmente com o público da América do Sul. Mas achei que não tinha mais lugar no grupo. Aconteceram muitas coisas na música com as quais me identifico, mas as raízes do Maiden impediam que a banda mudasse.
Folha - O Maiden tem muito do Kiss em suas apresentações, especialmente o boneco do monstro Eddie. Por que alguns fãs levam a sério as alusões demoníacas do grupo?
Dickinson - É estranho mesmo. Nunca vi Eddie sem ser como diversão. Mas o metal tem disso.
Folha - Com relação ao título do LP "Balls to Picasso", você nunca ouviu a música do Circle Jerks que diz "ninguém nunca chamou Picasso de 'asshole' "?
Dickinson - Que tal essa: sabe como Picasso desenharia um "asshole"? Com a forma de um cubo.

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