São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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'Orfeo' volta a SP em formato econômico

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ópera: Orfeo ed Euridice, de Gluck
Com: Orquestra Experimental de Repertório, regida por Jamil Maluf, e Coral Paulistano, regido por Samuel Kerr
Solistas: Regina Helena Mesquita (Orfeo), Rosana Lamosa (Euridice) e Edne d'Oliveira (Amore)
Quando: hoje, às 20h30, e amanhã, às 17h
Quanto: de R$ 0,50 a R$ 2,50
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 011/222-8698, região central)

Trinta e sete anos depois, São Paulo poderá assistir a uma nova montagem de "Orfeo ed Euridice", de Gluck. No Teatro Municipal, a ópera foi montada apenas em 1927, 1929 e 1958.
Infelizmente, porém, a montagem da ópera —uma das mais simples e baratas do repertório— acontece em versão de concerto. A razão para que isto aconteça com uma ópera que estava originalmente programada para 94 é, segundo o maestro Jamil Maluf, a falta de dinheiro.
"Convidei para a direção o Antônio Augusto (de 'O Livro de Jó', em cartaz no Hospital Umberto Primo) e ele sugeriu que a montagem fosse feita fora do Teatro Municipal. Adorei a idéia, mas isto, evidentemente, aumenta os custos da montagem", diz.
A versão de concerto seria uma maneira de viabilizar uma montagem mais elaborada. "Convidei vários patrocinadores em potencial para assistirem à ópera. Espero que eles se sensibilizem com a beleza da música e financiem o belo projeto de Antônio Augusto", afirma o maestro.
Mesmo com uma versão de concerto, aventou-se a possibilidade de ser feito um jogo cênico envolvendo iluminação, coro e solistas. A idéia de uma montagem híbrida, entretanto, foi abandonada devido à coincidência de datas entre a ópera e o recital de Eliane Coelho.
Outra idéia abandonada foi a utilização de um contratenor no papel de Orfeu. A performance de Sebastião Câmara nos ensaios não agradou.
O papel ficou para a mezzo-soprano Regina Helena Mesquita. Depois do triunfo como Carmen na Ópera do Arizona (EUA), em outubro de 1994, Mesquita confessa ter dificuldades com um papel um pouco mais leve que sua tessitura natural. Mas a maior dificuldade é a falta de encenação: "Os recitativos são muito longos, e a ópera corre o risco de ficar muito travada".
Dificuldades com a versão de concerto também deve ter a soprano carioca Rosana Lamosa, que em novembro participará da final do Concurso Pavarotti de canto, em Filadélfia (EUA). Sua personagem, Euridice, morre e ressuscita duas vezes. "Quando tiver de morrer, vou me sentar. Deitar seria ridículo", afirma.

A música
Christoph Willibald Gluck (1714-1787) foi o grande reformador da ópera em sua época, e "Orfeo ed Euridice", de 1762, foi o marco de suas reformas. Até então, Gluck era um compositor como outros: o estilo vocal de suas óperas era excessivamente ornamentado e não hesitava em sacrificar a verossimilhança e unidade dramática das óperas aos caprichos dos "castrati" e prima-donas.
Com "Orfeo ed Euridice", Gluck prova ser possível conciliar intensidade dramática e beleza. A escrita vocal continua floreada, mas sem excessos, e a parte orquestral da partitura ganha em importância.
A ópera possui duas versões: a da estréia vienense, de 1762, mais breve e cantada em italiano, adotada pelo maestro Jamil Maluf, e a da estréia parisiense, em 1774, cantada em francês.

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