São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil passa a Colômbia nas esmeraldas

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A MINAS E GOIÁS

Domingo, 5 de março. Às 8h, o goiano Antônio Rosa, 44, maior produtor de esmeraldas do país, bebe sua primeira dose de uísque do dia, misturada na xícara de café. À sua volta, empregados de confiança enchem dois galões de plástico com 50 kg de esmeraldas.
A cena se passa na fazenda de Antônio Rosa, no garimpo de Campos Verdes, norte de Goiás. As pedras foram colocadas no avião Sêneca do garimpeiro e seguiram para Goiânia.
O embarque de grandes cargas de esmeralda é rotineiro na região, mas, pela primeira vez, foi testemunhado por jornalistas. A convite de Rosa, repórter e fotógrafo da Folha o acompanharam no vôo.
Em Goiânia, ele levou a reportagem ao hotel cinco estrelas Papillon (uma de suas muitas moradias) e permitiu que se fotografasse um lote de esmeraldas gigantes, avaliadas em US$ 1 milhão. Elas eram recém-extraídas do garimpo de Nova Era (MG), a apenas 150 Km de Belo Horizonte.
Com a jazida de Nova Era, o Brasil passa a Colômbia na posição de primeiro produtor de esmeraldas do mundo. Há pelo menos 2.000 garimpos de ouro e outras pedras —como o diamante, ametista, agua-marinha, topázio e turmalina— em atividade no país (veja mapa na página seguinte).
A mina de Nova Era fica dentro do quadrilátero ferrífero de Minas (o subsolo mais pesquisado do país) e, ainda assim, só foi descoberta por acaso, em 1987, quando algumas pedras apareceram em um chiqueiro de porcos. Sua produção atual atinge 100 quilos por mês.
Três séculos atrás, o bandeirante Fernão Dias (1608-1681) passou pelo local à procura de esmeraldas e morreu acreditando ter encontrado apenas turmalinas.
Segundo o geólogo Sevan Naves, ex-diretor do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM, do Ministério das Minas e Energia), a descoberta da jazida indica que a pedra encontrada por Fernão Dias era, de fato, esmeralda e que o bandeirante se enganou ou foi enganado ao examiná-la.
Para ele, o subsolo brasileiro ainda é um grande desconhecido. Não se sabe sequer o volume extraído de pedras preciosas.
O DNPM estima que existam 400 mil garimpeiros em atividade e que o volume de pedras e ouro levados do país por estrangeiros é pelo menos três vezes maior (perto de US$ 1,2 bilhão) do que as exportações oficialmente registradas (US$ 370 milhões, em 94).
A decisão de Antonio Rosa, de mostrar as esmeraldas gigantes de Nova Era, pode ser um indício de mudança nos garimpos.
Os garimpeiros dizem querer acabar com a violência, dizem achar que o comércio ilegal já não faz sentido e dizem pretender a integração na sociedade na qualidade de empresários.
Antonio Rosa está ameaçado de morte. Para evitar um atentado, não marca compromissos com antecedência, só viaja em seu avião particular e vive em hotéis porque o garimpo de Nova Era está em clima de guerra.
No dia 20 de janeiro, o coronel reformado Antônio Menezes Pimenta, ex-comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar de Minas Gerais, morreu em um tiroteio nas galerias abertas no subsolo da mina, durante uma discussão sobre invasão de áreas.
Ele fazia a segurança das fronteiras de Antônio Rosa e foi baleado por policiais da delegacia de Coronel Fabriciano, município vizinho, que estariam a serviço de outros donos de garimpo.
O projeto de exploração da mina de Nova Era por cooperativa foi planejado para ser um modelo de organização garimpeira. Mas se transformou em um campo de batalha entre duas facções: a de Sinvaldo Pereira do Nascimento, o Bolinha, e a de Sérgio Casadei, presidente da cooperativa, que tem a simpatia de Antonio Rosa.

Texto Anterior: Sarney vira maior obstáculo
Próximo Texto: Morte ronda os garimpos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.