São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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O Pinheiros e o exibicionista

CARLOS AUGUSTO DE BARROS E SILVA

As semelhanças entre o prefeito Paulo Maluf e o ex-presidente Fernando Collor não se limitam ao fato de ambos terem sido educados e diplomados pelo mesmo regime.
Se o primeiro foi padrinho do segundo, parece que agora este último anda inspirando o prefeito em sua vocação pelas medidas arbitrárias e sensacionalistas. Como Collor, Maluf também tem revelado um particular gosto pelos gestos pirotécnicos a fim de vender à população a imagem de uma gestão moderna, dinâmica, esportiva.
Na última quinta-feira, o prefeito gabava-se aos repórteres pelo fato de estar pilotando um carro a "apenas 140 km por hora" no circuito de Interlagos. "É uma velocidade de tartaruga numa pista como essa", dizia sorridente à imprensa que o acompanhava.
Em outro contexto a cena seria apenas grotesca. Semelhante, aliás, àquela mania que tinha o ex-presidente em exibir sua virilidade andando de jet-ski, pilotando avião supersônico ou fazendo cooper em torno da Casa da Dinda.
Ocorre que, assim como Collor, que dias após ser empossado mandou a Polícia Federal invadir a Folha, numa clara tentativa de intimidar aqueles que tinham em relação ao governo uma atitude crítica e independente, Maluf também tem estendido seu estardalhaço para além das práticas esportivas.
Refiro-me à "invasão cinematográfica" do Esporte Clube Pinheiros, feita por órgãos da prefeitura na última quarta-feira, que acabou resultando na absurda interdição completa do mesmo.
Tal medida não foi apenas "exagerada", como já se disse. Foi arbitrária e espalhafatosa mesmo, alardeando problemas de pequena expressão e fácil solução, já no dia seguinte praticamente superados.
Por trás dessa verdadeira manobra circense, tão grandiloquente quanto oca, não é difícil perceber mais uma tentativa do prefeito de extrair dividendos políticos pela via mais fácil. É estranho que "os graves problemas" que punham em risco a integridade física e a saúde dos pinheirenses tenham se resolvido tão rapidamente. No sábado o clube já funcionava normalmente. Há alguma coisa de errado em tudo isso.
O Pinheiros não precisa de defensores. É um patrimônio quase centenário de São Paulo, com mais de 40 mil sócios, sendo o clube brasileiro que vai levar a maior delegação de atletas para os Jogos Pan-Americanos. Nada menos que 30 jovens do clube irão representar o Brasil este ano.
O maior e único juiz do Pinheiros são seus associados, que sempre souberam avaliar a qualidade do espaço que frequentam. Quanto ao prefeito, é bom que deixe o exibicionismo de lado, lembre que seu juiz são as urnas e comece a administrar efetivamente o caos em que já transformou São Paulo.

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