São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Impostos custam 3 meses de trabalho

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O chefe de uma família de classe média da cidade de São Paulo com salário bruto mensal de R$ 2.000 (28,57 salários mínimos) trabalha três meses por ano para pagar os impostos diretos e indiretos cobrados pelos governos federal, estadual e municipal.
Essa é a conclusão de um estudo feito pela equipe da área de consultoria fiscal e tributária da Coopers& Lybrand, empresa de auditoria e consultoria.
O estudo constatou que 25,17% (R$ 503,40) da renda mensal de uma família de quatro pessoas —casal e dois filhos— são comprometidos com impostos.
Outros R$ 237,31 (11,87%) vão para os impostos embutidos nos gastos correntes do mês, que foram estimados em R$ 935,81 (46,79% da renda). Eles incluem compras de supermercado (alimentação e produtos de higiene e limpeza), despesas com saúde, vestuário, educação e transporte, além dos gastos com moradia (telefone, luz, água, gás, condomínio e IPTU).
Os valores foram apurados com base nas despesas efetivamente feitas por uma funcionária da Coopers & Lybrand em janeiro deste ano, segundo explica o diretor Douglas Nogueira, que coordenou a pesquisa.
A pesquisa foi feita também em Nova York para os mesmos padrões de salário e gastos mensais, convertidos pela taxa de câmbio de R$ 0,87.
Para um salário equivalente a US$ 2.300, os impostos diretos seriam de US$ 386,78 (16,82% da renda bruta) e o tributo que incide sobre consumo —estimado em US$ 925,81 (40,25%)— somariam US$ 80,01 (3,48%).
A carga tributária total seria de US$ 466,79, portanto, consumindo 20,30% da renda bruta mensal. Esse chefe da família teria que trabalhar quase dois meses e meio do ano para pagar os impostos.
A principal conclusão que Douglas Nogueira extraiu do estudo é de que "a carga tributária do brasileiro não é absurda se comparada ao padrão médio internacional".
Ele explica que, embora o brasileiro pague mais impostos que o norte-americano, a carga tributária é inferior às dos países asiáticos, especialmente do Japão.
"O absurdo está no retorno dos impostos que o brasileiro paga, ou seja, na qualidade dos serviços públicos que recebe".
Ele lembra, que por causa da deficiência do ensino público primário, o brasileiro paga duplamente quando matricula seus filhos em escolas particulares.
O mesmo ocorre com a assistência médica, já que ele é obrigado a participar de um convênio médico diretamente ou através da empresa na qual trabalha.
"A péssima conservação das estradas brasileiras também aumenta as despesas de manutenção do carro no Brasil", diz Nogueira.
Outra conclusão do estudo é que, no Brasil, o peso dos impostos indiretos sobre o salário (11,87%) se aproxima bastante dos tributos diretos (13,30%).
A pesquisa da Coopers & Lybrand mostra que os gêneros de alimentação, higine e limpeza são os que sofrem a menor tributação, de 17,46% na média.
A maior taxação, de 74,12% na média, incide sobre os produtos supérfluos: cigarros, bebidas alcoólicas e cosméticos.

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