São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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"Nice Brazilian girl" não procura ninguém

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é sua culpa, nem minha, mas os homens e mulheres do Primeiro Mundo vivem uma crise afetiva sem precedentes. Não casam, não namoram, não amam. Mulheres parecem lutar contra o relógio, abandonando as virtudes do doce ser feminino, e partindo para projetos mais ambiciosos, como virar empresária, pilotar um supersônico etc. Os homens, atônitos, caçam tartarugas. A economia cresce, a taxa de natalidade decresce e a solidão não tem fim.

Frustrados com a falta de sorte no amor, alguns sujeitos daqui aproveitam o fim da Guerra Fria e procuram mulheres na Rússia. A agência "Lifetime Partner", uma das doze existentes na área, faz o arranjo àqueles que "querem de volta a mulher tradicional" com mulheres de Tver, uma cidade a 160 quilômetros de Moscou.
Lerry Geisler, 32, técnico em computação, diz que estava frustrado com os encontros daqui e que se confundia com as novas regras do politicamente correto. Perdeu a paciência quando foi criticado por uma americana ao abrir a porta do carro para ela. Foi para a Rússia e casou-se com Natasha Lazareva, 30, que diz que os homens russos são "adúlteros e beberrões". Não é lindo?

Já a mulher latina, especialmente a brasileira, é dona de um segredo valioso. Trabalhando por duas, consegue conciliar o calor afetivo da paixão com a frieza dos negócios. Trabalha, ama, é amada e adora gentileza. E faz a fama. Numa pesquisa sem qualquer base científica, olhando apenas para meu umbigo (duas irmãs e duas priminhas casadas com estrangeiros), eu diria que de cada cinco casamentos binacionais com brasileiros envolvidos, quatro são brasileiras. Sim: estão roubando nossas mulheres.

Diariamente, o soc.culture.brazil, grupo que discute as notícias brasileiras na Internet, composto majoritariamente por estudantes brasileiros no exterior, é invadido por gringos ansiosos por contatar "nice Brazilian girls". Só hoje, um tal de Han, alemão, procura "hot Brazilian girls" que gostem de Carnaval, enquanto Ken, suíço, pergunta se alguma "nice Brazilian girl" gostaria de se corresponder com um rapaz da melancólica e chuvosa Genebra.

A melhor resposta veio de uma estudante brasileira, que escreveu: "Uma nice Brazilian girl não procura ninguém; se é realmente 'nice', ela espera sentada, que alguém a encontra".

MARCELO RUBENS PAIVA está em San Francisco (EUA) como bolsista da Knight Fellowship, na Universidade de Stanford.

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