São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Superpacote ECM traz 53 álbuns importados de Jarrett e Metheny

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se você é fã dos longos improvisos do pianista Keith Jarrett, ou se derrete com as fusões jazzísticas do guitarrista Pat Metheny, prepare o talão de cheques. A BMG-Ariola está suprindo o mercado nacional com as obras completas desses dois músicos pelo sofisticado selo ECM.
Trata-se de um pacote de CDs importados no mínimo respeitável: 42 álbuns de Keith Jarrett, gravados de 1971 em diante, além de 11 de Pat Metheny, que cobrem o período 1975-1984.
Fundado em 1970, pelo produtor Manfred Eicher, o selo ECM decolou rapidamente. Gravações intimistas registradas com alto nível técnico e capas artísticas ajudam a explicar o sucesso de um catálogo que destaca jazzistas próximos da vanguarda, tanto norte-americanos como europeus.

Virtuose
Autor do álbum de maior sucesso comercial do selo ("The Kln Concert", gravado em 75, mais de 1 milhão de cópias vendidas), Jarrett simboliza, de certo modo, o chamado "estilo ECM".
Virtuose como pianista, eclético como compositor e prolixo como improvisador, durante as duas últimas décadas esse norte-americano de 49 anos construiu uma imagem de artista espontâneo, neo-romântico até, que cria suas obras frente à platéia, no palco.
Porém, se possui uma grande e quase religiosa legião de cultores, Jarrett também tem seus desafetos. Alguns deles desprezam a auto-indulgência de seus improvisos quilométricos. Outros reclamam de seu irritante vício de entoar sons guturais, ou mesmo gemer, enquanto toca.
O ponto mais alto da vertigem jarrettiana está em "Sun Bear Concerts", gravado em concertos pelo Japão, em 1980. Os dez LPs da edição original foram transformados em seis CDs, que resultam em cerca de seis horas de audição. Uma maratona que só pode ser vencida pelos mais fanáticos.

Nova produção
Lançados em 94, dois álbuns do pacote trazem a produção mais recente de Jarrett. "Bridge of Light" é um disco de compositor: reúne quatro peças eruditas para violino, viola ou oboé. Jarrett toca só em uma, acompanhando a violinista Michelle Makarski.
Já o CD "At the Deer Head Inn" foi gravado ao vivo, em 92, na tradicional casa de jazz americana. Marca o reencontro de Keith Jarrett com o baterista Paul Motian, após 16 anos sem tocarem juntos.
Com o trio que também inclui o baixista Gary Peacock, Jarrett comanda longos improvisos sobre standards como "Basin Street Blues" e "It's Easy to Remember", em uma sessão bem descontraída, quase uma "jam session".

Lirismo
Não apenas uma marcante tendência ao lirismo aproxima o também eclético Pat Metheny, 40, de Jarrett. Até mesmo com parceiros do pianista Metheny tocou em seus 11 álbuns pela ECM.
É o caso do baixista Charlie Haden, do saxofonista Dewey Redman e do baterista Jack DeJohnette, presentes no CD "80/81", de certo modo uma preparação para o momento mais surpreendente da carreira de Metheny.
Trata-se do álbum "Song X" (de 1985), já lançado pelo selo Geffen, para o qual Metheny grava até hoje. Foi nesse trabalho que ele uniu-se ao saxofonista e compositor Ornette Coleman, pioneiro do "free jazz".
Porém, de lá para cá, Metheny resolveu retomar sua vocação "middle of the road". Continua fundindo jazz e rock, numa fórmula tão "light" às vezes que chega a agradar os adeptos da "new age". Por sinal, mais um evidente ponto de ligação entre Jarrett e Metheny.

Lançamentos: ECM/BMG Ariola
Artistas: Keith Jarrett (42 álbuns) e Pat Metheny (11 álbuns)
Formato: CD
Quanto: R$ 20 (cada um, em média)

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